USP: Projetos tentam recuperar duas aves ameaçadas de extinção

A destruição do habitat foi a principal responsável pelo rápido decréscimo do mutum-de-Alagoas e do pato-mergulhão

sex, 06/08/2004 - 10h17 | Do Portal do Governo

Duas aves da fauna brasileira poderão, dentro de alguns anos, deixar de figurar na lista de animais ameaçados de extinção.
O professor Luís Fábio Silveira, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biologia (IB), e curador associado da Seção de Aves do Museu de Zoologia da USP, desenvolve, juntamente com diversas instituições, projetos de conservação com o pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) e com o mutum-de-Alagoas (Mitu mitu). As espécies estão entre as aves mais ameaçadas da América do Sul.

Existem cerca de 200 patos-mergulhões livres na natureza, e nenhum cativo. Se outrora ele poderia ser encontrado no Brasil, Argentina e Paraguai, hoje, exceto raríssimas aparições em terras argentinas, sobrevive somente em áreas brasilerias isoladas, principalmente nas terras altas do Centro-Oeste.

Já do mutum restam cerca de 100 exemplares, todos em cativeiros. ‘Podemos dizer que temos o destino desta espécie
em nossas mãos’, afirma. A ave era originalmente encontrada apenas em matas de baixada nos estados de Alagoas e Pernambuco, que foram devastadas por iniciativas como o Proálcool, nas décadas de 1970 e 1980. Hoje restam alguns poucos fragmentos de mata que poderiam abrigar novas populações deste Cracidae (a família a qual pertence o mutum).

Os exemplares que deram origem à população em cativeiro foram capturados na década de 1980 por um criador de aves do Rio de Janeiro, Pedro Nardelli. Num esforço para preservar a espécie, ele cruzou exemplares do mutum-de-Alagoas com uma outra espécie de mutum, encontrada na Amazônia. O resultado é que entre 50% e 60% dos exemplares não são geneticamente puros, mas a espécie ainda sobrevive.

A destruição do habitat foi a principal responsável pelo rápido decréscimo de ambas populações. O pato-mergulhão se alimenta de peixes em rios cristalinos, onde consegue visualizar a presa. A construção de hidrelétricas como Itaipu e a crescente poluição de mananciais e rios restringiu seu habitat a algumas poucas áreas sem ligação entre si. ‘São populações muito isoladas e muito reduzidas’, diz.

Futuro

Segundo Silveira, até o fim do ano deve ser publicado um plano de ação para a preservação do pato-mergulhão, que inclui desde a recuperação dos habitats a um possível manejo em cativeiro. Este projeto conta com o apoio de diversas instituições, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e algumas ONGs, como a Terra Brasilis e a Wildfowl and Wetlands Trust (WWT), do Reino Unido.

Com o mutum o processo será diferente, já que a espécie existe apenas em cativeiro e muitos exemplares são híbridos. ‘Estamos num trabalho de recuperação e manutenção que visa principalmente a multiplicação da espécie’, explica Silveira. Além de aumentar o número de exemplares, os estudos também são orientados para um melhor pareamento das aves, no sentido de proporcionar pureza e diversidade genética à população e evitar assim que surjam doenças de consangüinidade. ‘Em cerca de 6 ou 7 anos devemos começar a soltar alguns animais na natureza’, estima.

Os estudos genéticos estão sendo feitos pela equipe da professora Anita Wajntal, do IB, e o projeto conta ainda com parcerias de diversas outras instituições, como o Instituto para a Preservação da Mata Atlântica (IPMA), de Alagoas, a BirdLife International, o Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas e a Crax, em Belo Horizonte.

André Benevides – Da Assessoria de Imprensa da USP

M.J.