USP: Projeto estuda moléculas de estrógeno para produção de medicamentos

Objetivo é a produção de fármacos para tratar a osteoporose, câncer de mama e reposição hormonal

ter, 09/08/2005 - 18h03 | Do Portal do Governo

Objetivo é a produção de fármacos para tratar a osteoporose, câncer de mama e reposição hormonal

O Brasil está a caminho de produzir novos fármacos para tratamento da osteoporose, câncer de mama e reposição hormonal. No Departamento de Física e Informática do Instituto de Física da USP de São Carlos (IFSC), o professor Igor Polikarpov vem coordenando um projeto de pesquisa que deverá apresentar à indústria farmacêutica, em aproximadamente seis meses, cerca de 50 moléculas ligantes, que atuam nos receptores nucleares de células, para serem sintetizadas. ‘Este é o primeiro passo na produção de candidatos a fármacos’, diz o pesquisador.

Há cerca de sete anos, o professor Polikarpov estuda os receptores nucleares (proteínas encontradas no núcleo das células). ‘Em todo o corpo humano existem 48 proteínas receptoras nucleares que regulam a ação hormonal e o metabolismo em geral’, explica o professor. Suas pesquisas são voltadas a estudos estruturais e funcionais do receptor de estrógeno, do sistema reprodutivo feminino.

Para melhor entender o funcionamento das proteínas, o professor Polikarpov trabalha com a cristalografia de macromoléculas, desvendando suas estruturas tridimensionais. ‘Ao conhecermos as suas estruturas, podemos imaginar como as proteínas funcionam. No desenvolvimento racional de fármacos usamos um princípio semelhante à idéia de ‘chave e fechadura’. A partir das estruturas tridimensionais de receptores nucleares conseguimos obter mais subsídios para encontrar compostos químicos que se encaixam no sítio ativo destas proteínas sendo, portanto, possíveis ligantes delas’, afirma o pesquisador.

Análise de patentes

O projeto, que está sendo desenvolvido no Centro de Biologia Molecular Estrutural e tem a participação do professor Adriano Andricopulo, tem recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia, e conta com a colaboração da empresa farmacêutica EMS Sigma-Pharma.

A idéia central do projeto é explorar ligantes do receptor de estrógeno para encontrar as moléculas com potencial farmacêutico no tratamento de osteoporose, câncer de mama e de útero e reposição hormonal. O passo inicial foi analisar as patentes das moléculas que compõem medicamentos já utilizados para as doenças em questão. ‘Cerca de 5 mil patentes já foram analisadas’, contabiliza Polikarpov. Destas, aproximadamente 300 foram selecionadas e classificadas. Daí os cientistas estudaram todos os ligantes farmacologicamente relevantes e irão propor uma síntese de novos ligantes que atuem diretamente no receptor de estrógeno.

Após síntese e avaliação da primeira série destes ligantes, o segundo passo será avaliar a toxicidade. ‘Teremos de saber se não serão prejudiciais ao ser humano’, diz o pesquisador. Em seguida, os especialistas poderão dar início ao processo de patenteamento destas moléculas.

Polikarpov lembra que o desenvolvimento de um fármaco pode durar entre 10 e 15 anos. ‘Pretendemos reduzir este tempo’, garante. ‘As primeiras 50 moléculas propostas pelo nosso grupo deverão ser sintetizadas pela empresa farmacêutica em aproximadamente um ano, para depois prosseguirmos com os testes in vitro e em células’.

Mercado rentável

Polikarpov avalia que o mercado de medicamentos para o tratamento da osteoporose e reposição hormonal atinge aproximadamente US$5,5 bilhões. A projeção, segundo ele, é que em 2008 este valor seja duplicado, já que a população ficará mais velha e ciente dos problemas relacionadas com osteoporose e necessidade de reposição hormonal. ‘O Brasil tem condições de entrar neste mercado’, garante o professor.

Os medicamentos convencionais, de acordo com o professor, mesmo que cumpram suas funções, podem causar efeitos indesejados aos pacientes. ‘No caso do câncer de mama, por exemplo, temos o tamoxifeno, que tem como efeito colateral o aumento das chances de a paciente ter câncer de útero, já que o medicamento tem ação semelhante ao estradiol (hormônio feminino) neste órgão’, explica.

No caso da osteoporose, a idéia é propor ligantes que possam simular a ação do estradiol nos ossos. ‘Com a diminuição do hormônio feminino, os ossos começam a ficar descalcifificados e, portanto, ocos e fracos, quando se caracteriza a osteoporose’, diz Polikarpov, lembrando que entre os medicamentos mais usados contra a doença está o raloxifeno que também atua no receptor de estrógeno.

Antonio Carlos Quinto
da Agência USP

M.J.