USP: Projeto Chumbo anuncia suas metas para o ano que vem

Grupo distribuirá material explicativo e ampliará seu trabalho de pesquisa

sex, 10/12/2004 - 20h35 | Do Portal do Governo

Moradores do Jardim Tangarás, na periferia de Bauru, atingidos em 2002 por contaminação de chumbo, receberão cartilhas educativas para evitar o abandono de avaliação ambulatorial e a repetição de comportamentos de risco, como o consumo de alimentos cultivados na região. A entrega do material integra um pacote de ações estratégicas traçadas para 2005 pelo Projeto Chumbo, como ficou conhecido o Grupo de Estudo e Pesquisa de Intoxicação por Chumbo em Crianças de Bauru, formado por unidades da USP e da Unesp e órgãos municipais.

A contaminação se deve a um vazamento de chumbo ocorrido há cerca de dois anos numa empresa de recuperação de baterias – Indústria Acumuladores Ajax. O chumbo pode ser encontrado, até hoje, no ar e no solo da região. Após um levantamento realizado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), iniciou-se um acompanhamento médico regular dos moradores e foram tomadas medidas como raspagem do solo, pavimentação e limpeza do ambiente.

Acompanhamento

Atualmente, 314 crianças da região atingida são acompanhadas gratuitamente por profissionais da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP, da Faculdade de Medicina e da Faculdade de Psicologia da Unesp, além de um neuropediatra contratado exclusivamente para o projeto. Os adultos, por terem um organismo mais resistente, são menos vulneráveis a esse tipo de contaminação. Os espaços para atendimento são cedidos pelo Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC – Centrinho), da USP de Bauru, e pela Prefeitura da cidade.

A neuropediatra Niura Padula (Unesp), coordenadora geral do projeto, explica que a cartilha será “uma maneira de esclarecer as famílias que sofreram com a contaminação”. O material trará um histórico do ocorrido e informações a respeito da ação do chumbo no organismo, suas possíveis seqüelas e a importância de se manter o acompanhamento médico.

Segundo o geneticista Esiquiel de Miranda, que dirige o atendimento no Centrinho, as crianças devem ser acompanhadas por um período de cinco a dez anos. O excesso de chumbo no sangue pode provocar anemia crônica, alterações no crescimento e problemas renais e neurológicos.

As medidas tomadas até o momento contribuíram para a redução do nível de chumbo nos organismos das crianças atendidas. Apenas uma garota, que morava numa casa em que se lavavam baterias, apresentou problemas neurológicos graves. Niura ressalta que, embora as demais crianças avaliadas não tenham seqüelas, o acompanhamento médico é imprescindível.

Ampliação

As parcerias entre profissionais de saúde – nas áreas de neuropediatria, psicologia e fonoaudiologia, entre outras – serão ampliadas no ano que vem. A equipe multidisciplinar do Projeto Chumbo irá arquivar e analisar dados de cada avaliação. Além disso, acompanhará um grupo-controle responsável pelo levantamento clínico de um universo de crianças que vivam em condições sanitárias e socioeconômicas semelhantes às do Jardim Tangarás. Assim, poderá ser feita uma comparação do quadro de saúde entre os dois grupos.

O Grupo de Estudo e Pesquisa de Intoxicação por Chumbo em Crianças de Bauru recebeu dois prêmios por seu trabalho. O primeiro foi o Prêmio Brasil Solidário Aché, concedido a profissionais de saúde que tenham se destacado em trabalhos de caráter humanístico. Entre mais de 500 concorrentes de todo o país, o projeto desenvolvido em Bauru obteve a terceira colocação. A segunda premiação veio do Ministério da Saúde, em reconhecimento a ‘experiências positivas na área epidemiológica’.

Também participam do projeto a Secretaria Municipal de Saúde e a Divisão Regional de Saúde (DIR-10).