USP: Profissionais de fonoaudiologia dispõem de um novo método para trabalhar a linguagem

Metodologia é usada por psicólogos e neuropediatras

qui, 11/11/2004 - 9h28 | Do Portal do Governo

Do Portal da USP
Por Mariana Delfini

Profissionais de Fonoaudiologia contam com um mecanismo que se revelou um bom indicador no diagnóstico de Alterações Específicas do Desenvolvimento da Linguagem (AEDL): a Escala de Desenvolvimento Comportamental de Gesell e Amatruda (EDCGA). Em estudo feito em 2002 pela professora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru da USP, Simone Hage, a escala foi considerada um instrumento útil para distinção desse tipo de alteração.

As AEDL são alterações específicas que atingem somente a linguagem, diferente de deficiências mais amplas que afetam todo o desenvolvimento da criança, como a mental e auditiva, transtornos invasivos do desenvolvimento (autismo, por exemplo), paralisia cerebral, déficit de atenção e hiperatividade, entre outros. As causas para as AEDL podem ser ambientais, ou seja, falta de estímulo dos pais, o que pode ser superado com o tempo. Quando as causas são neurobiológicas, como herança genética ou alteração sutil no desenvolvimento do cérebro, é necessária terapia fonoaudiológica.

Diagnóstico facilitado

As escalas de desenvolvimento têm o objetivo de determinar o nível evolutivo da criança. A Escala de Desenvolvimento Comportamental de Gesell e Amatruda data dos anos 60. É utilizada amplamente por psicólogos e neuropediatras, mas o estudo de Simone Hage é o primeiro que relaciona a Escala ao diagnóstico de AEDL.

Com a ajuda de colaboradores, a médica avaliou 25 crianças com AEDL entre 3 e 6 anos e 50 crianças normais da mesma faixa etária segundo critérios da EDCGA. Os cinco campos do comportamento avaliados são o comportamento adaptativo, motor grosseiro, motor delicado, comportamento de linguagem e comportamento pessoal social. As crianças com AEDL apresentaram porcentagens muito abaixo do esperado no comportamento de linguagem. Também não obtiveram bons resultados na avaliação do comportamento adaptativo e pessoal social, por envolverem habilidades de compreensão ou expressão verbal. Porém, não apresentaram dificuldade nas avaliações de comportamento motor grosseiro e delicado.

O principal critério para o diagnóstico de AEDL é a discrepância entre o desenvolvimento da linguagem e outras áreas. O diagnóstico é feito por exclusão: são feitas avaliações audiológica, neurológica e psicológica para excluir, respectivamente, deficiência auditiva, quadros neurológicos clássicos e deficiência mental. Para isso, é necessária uma equipe de profissionais. ‘A escala de desenvolvimento auxilia o profissional que não tem uma equipe para fazer o diagnóstico; ela pode indicar AEDL’, afirma.

A intervenção fonoaudiológica, nestas circunstâncias, tenta desenvolver novas conexões no cérebro da criança e apresenta maior progresso quando feita o mais cedo possível. Para isso, o diagnóstico deve ser feito precocemente. O atraso no aparecimento da linguagem oral só pode ser notado a partir dos dois anos de idade; antes disso, a ausência de linguagem é considerada normal.

V.C.