USP: Professores do ensino fundamental desconhecem conceitos básicos de Astronomia

Pesquisa, realizada pela Faculdade de Educação, será tema de palestra no Instituto de Astronomia/USP

qui, 23/09/2004 - 14h51 | Do Portal do Governo

Conceitos básicos de Astronomia são pouco compreendidos por professores de Ciências da rede pública do ensino fundamental. Essa é a conclusão da pesquisa desenvolvida pela física Cristina Leite, aluna de doutorado da Faculdade de Educação (FE) da USP, e que será tema de palestra apresentada no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) no dia 29 de setembro, a partir das 15 horas.

‘Grande parte desses professores são formados apenas em Biologia, e têm de dar aula sobre assuntos que não dominam. Assim, se baseiam exclusivamente no livro didático, e estes nem sempre apresentam os conceitos de maneira adequada’, comenta a pesquisadora.

Durante o mestrado, Cristina entrevistou professores de Ciências da rede pública, com mais de dez anos de docência, na cidade de São Paulo, para saber como eles entendiam alguns conceitos de Astronomia que fazem parte do currículo escolar. ‘Eles tem uma noção de Terra plana’, comenta a doutoranda. ‘Isso quer dizer que, mesmo conhecendo o modelo teórico que diz que nosso planeta é esférico, eles não conseguiam explicar como isso é possível’. A partir daí, vinham as noções mais incríveis: desde que a Terra é realmente plana, até a idéia de que vivemos em um plano dentro de uma esfera – e as duas semi-esferas seriam o céu.

Universo em camadas

Questionados sobre a organização do universo, os professores faziam referência a um universo em camadas, com a Terra embaixo, seguida das estrelas, da Lua, do Sol e dos planetas. ‘Ou então era um universo em um plano, com o Sol, e a fileira de planetas’, lembra Cristina – tal e qual é apresentado nos livros didáticos.

Outra noção equivocada diz respeito ao conceito de estrela. ‘Todos sabiam que o Sol é uma estrela de quinta grandeza’, conta a pesquisadora. ‘Mas quando questionados sobre o lugar do espaço para onde gostariam de viajar, muitos diziam ‘para uma estrela’. Pode ser para o Sol?, questionávamos. E eles respondiam: ‘não, porque o Sol é quente’. Em geral, as estrelas eram relacionadas a uma idéia de lugar frio, ao contrário do Sol.

Conceitos de galáxia, buraco negro, estrelas cadentes também causaram confusão. ‘Um professor me perguntou se eu estava falando da camada de ozônio. Outro me disse que uma estrela cadente é uma estrela que morre e cai, riscando o céu’.

Para Cristina, esses problemas são causados principalmente pelo tipo de formação do professor de Ciências. ‘Ele dá aula de Ciências, mas nem sempre é formado especificamente para isso. Então, há conceitos que ele não conhece’. E um desses conceitos – o principal, na opinião da pesquisadora – é a noção de espacialidade. ‘É difícil para ele entender, por exemplo, o que nos segura na esfera que é a Terra, ou porque a Lua é esférica se ela aparece no céu como um disco achatado. Ou ainda, porque as idéias de ‘em cima’ e ‘em baixo’ não têm sentido no espaço, são só convenções humanas. Isso tudo precisa ser melhor trabalhado, com os professores, para que eles possam fazer isso com seus alunos também’.

Os Seminários do Departamento de Astronomia do IAG ocorrem no Auditório Principal, no Bloco G (Rua do Matão, 1226, Cidade Universitária). Entrada franca. Mais informações: (0XX11) 3091-2710 / 2814.

Da Agência USP de Notícias/Márcia Blasques/L.S.