USP: Professor diz que SARS estará controlada em sete dias

Síndrome Respiratória Aguda Grave deverá estar controlada em Hong Kong, Toronto e Cingapura

seg, 28/04/2003 - 19h44 | Do Portal do Governo

Em cerca de uma semana, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), deverá estar controlada em Hong Kong, Toronto e Cingapura. A afirmação é do professor da Faculdade de Medicina da USP Eduardo Massad, que há um mês vem se dedicando ao desenvolvimento de um modelo matemático que busca entender o curso natural da epidemia. ‘Se nenhum fato novo acontecer, o modelo prevê que a doença estará controlada em sete dias. Esse cálculo vale tanto para Hong Kong quanto para Toronto e Cingapura, onde os registros são mais confiáveis.’

O professor, que preferiu não fazer projeções para a China porque vê como ‘caóticas’ as informações do local, adverte que o modelo matemático considera em sua formulação as medidas gerais de contenção de doenças transmitidas pelo ar, adotadas especialmente em Hong Kong. Assim, pode-se dizer que as intervenções na ilha – isolamento dos infectados, uso de máscaras entre a população suscetível e fechamento de locais de grande aglomeração de pessoas, além de desinfeção de parques, ruas, restaurantes, centros comerciais e outros locais públicos – determinaram o novo curso da doença e também influíram nas projeções do seu desenvolvimento. ‘Se essas medidas gerais não tivessem sido tomadas, hoje existiriam cerca de 20 mil infectados em vez dos cerca de 1.400 casos atuais’, afirma.

Os estudos de Massad sobre o comportamento da epidemia começaram em 17 de março, quando foram divulgados os primeiros 95 casos em Hong Kong. A pesquisa baseia-se em números atualizados diariamente segundo os dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Nos primeiros quatro dias da onda epidemiológica, o professor verificou que a pneumonia atípica já havia quase dobrado o número de infectados, que passou para 173 pessoas. ‘Uma doença que praticamente dobra o número de casos a cada quatro dias no começo significa que seu ímpeto inicial é muito grande. Grosso modo, isso equivale a dizer que, no ímpeto inicial, em média, cada infectado gera um novo caso ou que existe uma chance de 25% de uma pessoa suscetível adquirir a doença. Portanto, se nada tivesse sido feito, quando a onda epidemiológica passasse haveria 80% das pessoas suscetíveis infectadas, o que é uma catástrofe. Acontece que algo foi feito em Hong Kong e foi justamente a adoção dessas medidas de contenção que restringiram o número de infectados’, diz o pesquisador, que há 20 anos trabalha com modelos matemáticos de epidemias.

A simulação feita pelo professor Massad prevê que ao final de 50 dias desde o início do ciclo epidemiológico em Hong Kong – o que deve acontecer daqui a cerca de uma semana – a taxa inicial de contágio sofrerá uma redução de 40% do seu valor inicial. ‘Peguei a taxa inicial de contágio, simulei uma intervenção e terei, com isso, o novo curso da doença. É como se eu tirasse 60% dos infectados de circulação. Eles ficariam sem nenhum contato com as pessoas suscetíveis. Com a taxa de contágio inicial reduzida em 60%, haverá ao final da epidemia apenas 1% dos suscetíveis afetados’, afirma.

No Brasil, a baixa de incidência da doença e o rápido isolamento das vítimas providenciado logo no início do contágio deverá permitir que a SARS permaneça sob controle, afirma o professor. ‘Aqui há poucos casos e as vítimas já estão isoladas em hospitais. Não há grande risco de a epidemia se alastrar no País. Acredito que a lição a ser tomada da experiência de Hong Kong é que realmente se trata de uma doença de altíssima contagiosidade. Só que é controlável com medidas gerais de contenção. Se, por exemplo, começarmos a ter 30, 40 casos por dia, teremos que usar máscara, especialmente os infectados. O coronavírus é altamente contagioso e pode ser transmitido por contatos materiais e não só pelo ar.’

A SARS (Severe Acute Respiratory Syndrome) apareceu em novembro de 2002 mas só começou a ser registrada a partir de 11 de fevereiro passado, quando a OMS recebeu a notificação da doença na província de Guangdong, na China. Espalhou-se rapidamente pela Ásia, Oceania, Europa e América do Norte. Países como Canadá, Estados Unidos, Alemanha, Suécia, Suíça, França, Reino Unido, Irlanda, Espanha e Áustria já notificaram casos da doença, que matou até agora mais de 250 pessoas e infectou mais de 4.460 em 25 países do mundo. Os sintomas da pneumonia asiática são parecidos com os de gripe: febre alta (acima de 38 graus), calafrios, dores musculares e tosse seca, sendo que depois evolui para dificuldade na respiração.

Mais informações: (11) 3081-7717, ou e-mail