USP: Processo fotoquímico da Poli pode ser solução para tratamento de efluentes

Dois estudos recentes desenvolvidos na área de efluentes industriais estão sendo testados com sucesso

sex, 27/02/2004 - 12h16 | Do Portal do Governo

Dois estudos recentes desenvolvidos na área de tratamento de efluentes industriais estão sendo testados com sucesso na Escola Politécnica da USP. Os métodos buscam, principalmente, diminuir os impactos ambientais causados pelo descarte de efluentes tóxicos.

No Centro de Engenharia de Sistemas Químicos, do Departamento de Engenharia Química da Poli, um grupo de pesquisadores está patenteando projeto destinado a tratar efluentes na indústria têxtil que contêm silicone em sua composição.

No Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, uma tese de doutorado permitiu a implantação de uma estação de tratamento de efluentes numa indústria em Americana, no interior de São Paulo.

O processo de degradação de efluentes por meio de processos fotoquímicos de oxidação avançada funciona em escala piloto no próprio Departamento de Engenharia Química. O projeto utiliza reação entre peróxido de hidrogênio e ferro, submetida a radiação ultravioleta.

‘O projeto possibilita a separação do silicone, componente usado na indústria têxtil para o amaciamento de fibras. O silicone não é biodegradável, não sendo, portanto, suscetível a processos biológicos de degradação. Atualmente, as indústrias têxteis depositam seus efluentes em locais específicos. Os resíduos líquidos contendo silicone são incinerados, o que acarreta em custos com armazenamento e transporte’, explica Cláudio Augusto Oller do Nascimento, professor e coordenador do projeto.

O pesquisador associado Antonio Carlos Silva Costa Teixeira, que integra a equipe do professor Oller, destaca a economia do sistema: ‘Além de poder usar a energia solar, podemos reaproveitar a água que será separada no tratamento’.

A radiação ultravioleta tanto pode ser produzida por uma lâmpada especial como pela própria luz do sol. Para tanto, os pesquisadores construíram um sistema de captação de luz solar. ‘O método torna o silicone insolúvel, quebrando suas moléculas’, diz Teixeira. Ele destaca ainda que o processo, em fase de patenteamento, demanda pouco espaço físico e recursos financeiros.

Recentemente, o projeto foi vencedor, entre cerca de 70 trabalhos, do Prêmio Nacional do Encontro de Aplicações Ambientais de Processos Oxidativos Avançados/2003. O encontro é realizado há cada dois anos. Além dos professores Oller e Teixeira, integra a equipe o professor Roberto Guardani, também do Departamento de Engenharia Química da Poli.

Experiência concreta

Na Degussa Brasil Ltda., indústria de especialidades químicas, em Americana, no Interior de São Paulo, uma tese de doutorado, defendida no Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Poli, deu oigem à instalação de uma estação de tratamento de efluentes. O engenheiro-civil Jader Vieira Leite diz que a estação já está em funcionamento e conta com aprovação dos órgãos ambientais.

Em sua tese de doutorado Tratamento de águas residuárias de indústrias químicas por processos oxidativos avançados – POA – Estudo de caso, Vieira Leite utilizou, basicamente, o mesmo processo: a reação do peróxido de hidrogênio com ferro catalisada com luz ultravioleta. ‘Trata-se do primeiro projeto em escala industrial’, afirma o engenheiro.

Desenvolvido para tratar efluentes com altas cargas de toxicidade, o sistema implantado na empresa fragmenta os diversos compostos do efluente para que estes possam ser mais facilmente degradados biologicamente.

Sob a orientação da professora Dione Mari Morita, o estudo foi realizado em conjunto com a Unicamp, sob co-orientação do professor Wilson Figueiredo Jardim, e teve a colaboração da própria empresa. O sistema é mais econômico em relação aos métodos convencionais para efluentes com alta toxicidade e alta carga orgânica. ‘Com a diminuição do espaço requerido e maior controle do processo há uma economia de recursos’, garante Vieira Leite.

Na Degussa, a estação trata dos efluentes com altas concentrações de formaldeídos e ácidos carboxílicos de difícil degradação. ‘Além do mais, o tratamento não produz lodo, comum nesses casos. Após essa etapa, o efluente segue para o processo tradicional de degradação biológica’, explica o engenheiro. Depois de três anos de estudos, a estação de tratamento começou a operar há cerca de dois anos”.

Antonio Carlos Quinto – Da Agência USP de Notícias
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)