USP: Princípios de Da Vinci podem incentivar a produção de conhecimento na escola

Educadores devem incentivar o questionamento e a criatividade

ter, 22/03/2005 - 10h19 | Do Portal do Governo

Com base nos princípios do italiano Leonardo Da Vinci (1452-1519), a educadora matemática Claudia Georgia Sabba realizou um estudo em que propõe uma reestruturação do processo de ensino e aprendizagem. ‘A criança entra na escola com muita curiosidade, querendo saber os porquês. Mas, por algum motivo, ela costuma sair desmotivada, achando entediante a maior parte de suas aulas’, diz.

Segundo Claudia, é preciso incentivar a curiosidade do aluno. Assim como Da Vinci, a criança deve ser impulsionada pela ‘vontade ou motivação de saber como as coisas são ou acontecem’. ‘Leonardo Da Vinci se baseou na criação. Levado por sua curiosidade, ele fazia conexões entre os diversos campos do conhecimento – pintura, engenharia, física, anatomia – e trabalhava tanto com o raciocínio quanto com a emoção’, conta a pesquisadora. Além disso, Da Vinci utilizava em suas obras (artísticas e científicas) a técnica do Sfumato, que consiste na apresentação de um fundo esfumaçado e nebuloso, com um certo ar de mistério e indagação.

No Sfumato, Claudia encontrou uma metáfora para a aprendizagem. ‘O professor deve levantar dúvidas, mesmo que ele não conheça as respostas no momento. O aluno, ao ficar curioso, pode procurar as soluções e encontrar coisas novas’. Entretanto, para incentivar a curiosidade é necessário que o professor admita seu desconhecimento em outros campos e, eventualmente, deixe de lado regras próprias e pré-estabelecidas. ‘Infelizmente a escola não sabe trabalhar a partir da intuição do aluno. Muitas vezes o professor tenta impor seu jeito de resolver um exercício e acaba por limitar a criatividade do estudante’, explica.

Interdisciplinaridade

Para Claudia, o ideal é que um projeto interdisciplinar seja resultado de um movimento despertado pela curiosidade do aluno. ‘Os conteúdos seriam discutidos na solução de problemas que emergem do projeto, e não apenas de um programa ‘imposto de cima para baixo”, afirma. ‘Os professores devem se preparar para lidar com a formulação de problemas e questionamentos’.

Ela também critica a separação das ciências em áreas ‘exatas’, ‘humanas’ e ‘biológicas’, o que tem resultado num divórcio entre os diversos campos do conhecimento. ‘Arte e Ciência, por exemplo, são vistas como territórios completamente distintos’, ressalta a educadora, para quem essa separação é prejudicial. ‘ Da Vinci nos mostra que arte e ciência caminham juntas, livres de hierarquias’. Claudia cita como exemplo o quadro Santa Ceia, pintado em 1497, que alia a sensibilidade artística às proporções matemáticas.

Paideia

Claudia lembra um caso relativamente bem sucedido na busca por uma metodologia de aprendizagem que una o raciocínio, a sensibilidade e a curiosidade: o grupo norte-americano Paideia, fundado em 1982 pelo filósofo Mortimer Adler. Para eles, o processo de aprendizagem é contínuo e abarca a resolução de exercícios, o desenvolvimento da capacidade intelectual e a participação ativa do aluno por meio de debates.

‘O aluno deve ser ativo em sua aprendizagem. O papel da escola é motivá-lo a reinventar e questionar, procurando compreender quais as barreiras que desincentivam sua curiosidade’, recomenda. ‘Afinal, quantos Leonardos não estamos perdendo?’.

Flávia Souza, Da Agência USP

M.J.