USP: Poluição do ar aumenta mortalidade em recém-nascidos

Aumento provoca um crescimento de 6,3% no número de mortes

ter, 03/08/2004 - 20h52 | Do Portal do Governo

Preocupado com as conseqüências que a má qualidade do ar está trazendo para a população da cidade de São Paulo, o professor Chin An Lin, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), pesquisou a relação entre a concentração de poluentes na atmosfera e o número de mortes de crianças recém-nascidas (entre 1 e 28 dias de vida) no município, entre 1998 e 2000.

‘Entre os dias em que a poluição atmosférica foi mais intensa e naqueles em que a concentração de poluentes foi menor, observamos um crescimento de 6,3% no número de mortes entre recém-nascidos’, revela o pesquisador.

A equipe de Chin cruzou números oficiais da mortalidade na Capital – obtidos junto ao Programa de Aprimoramento de Informação sobre a mortalidade (Proaim) – com dados referentes à poluição atmosférica e condições meteorológicas oferecidos pela Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental (Cetesb) e pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, respectivamente.

‘O estudo exigiu um trabalho estatístico complicado, em que separamos quatro níveis diferentes de concentração de poluentes no ar ao longo do período de estudo, que foi pouco mais de 2 anos. Além disso, levamos em consideração outros fatores que influenciam nas mortes neonatais, como dias mais frios, por exemplo’, comenta.

Segundo Chin, a causa da morte tanto em crianças como em idosos – principais vítimas da má qualidade do ar nas metrópoles – nunca é a poluição, mas sim os problemas que ela desencadeia e as falhas funcionais que ela provoca no organismo humano. ‘Além de causar problemas respiratórios graves, a poluição atmosférica também contribui muito para o agravamento de doenças cardiovasculares em idosos e facilita a ocorrência de infecções nos recém-nascidos, que ficam expostos aos efeitos da poluição desde a gestação’, explica.

Saúde Pública
A pesquisa, realizada no Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental (LPAE) da FMUSP, também revelou grande presença de dióxido de enxofre e materiais particulados (poeira, metais pesados, fumaça) no ar paulistano. ‘Esses poluentes, originados principalmente da queima dos combustíveis utilizados em carros e caminhões, estão mais associados às mortes neonatais’, esclarece Chin.

Outros estudos realizados pelos professores Paulo Hilário Nascimento Saldiva e György Böhm, também do LPAE, indicaram que a principal fonte poluidora da cidade de São Paulo é a enorme frota de veículos automotores que circula no município.

Para Chin, a poluição deve ser mais amplamente discutida entre os cidadãos com o intuito de conscientizá-los de que este não é somente um problema ambiental, mas também uma grave questão de saúde pública. ‘A partir do momento em que uma criança perde a vida ou tem sua saúde comprometida pela poluição, esta se torna uma questão de saúde pública e, como tal, merece ser abordada com mais seriedade tanto pela população como pelas autoridades.’

Mais informações: (011) 3061-2789 ou calin@uol.com.br

Tadeu Breda – Agência USP