USP: Poli usa lodo de tratamento de água na indústria cerâmica

Projeto viabiliza uso de resíduo de Estação de Tratamento de Água na fabricação de cerâmica

qua, 10/12/2003 - 17h53 | Do Portal do Governo

Em todo o Estado de São Paulo, quase mil toneladas de resíduos provenientes das Estações de Tratamento de Água (ETAs) são lançadas diretamente em rios, provocando danos ambientais. Um projeto desenvolvido no Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da USP mostra como esse material pode compor a matéria prima para fabricação de tijolos, telhas e tubos cerâmicos.

Há cerca de seis meses, a ETA de Cubatão, na Baixada Santista, envia cerca de 80 toneladas diárias de resíduos a uma indústria cerâmica da região de Tatuí, no interior de São Paulo. ‘Lá o material é adicionado à argila numa proporção de 10%’, diz a professora Dione Mari Morita, coordenadora do projeto.

Segundo a professora, o resíduo das ETAs é composto por materiais como alumínio, ferro e algumas impurezas da água e de produtos químicos usados no seu tratamento. ‘Este material contém de 0,1% a 4% de sólidos e 96% a 99,9% de água. Em geral, ele é concentrado até atingir 20% a 40% de sólidos’, diz. ‘O depósito deste material em aterros sanitários acarreta em despesas às concessionárias dos serviços de saneamento’, afirma Dione. Segundo ela, para dispor o resíduo num aterro, uma ETA gasta, em média, entre US$ 16 e US$ 32 por tonelada de material. ‘Isso sem contarmos os custos com o transporte’, lembra a pesquisadora.

No caso deste projeto, Dione lembra que o custo para a ETA de Cubatão refere-se apenas ao transporte, sendo este inferior ao normalmente cobrado, pois os caminhões que recolhem o material são os mesmos que transportam os blocos para a Baixada Santista. Outra vantagem destacada pela pesquisadora é que o uso do material pode ajudar na preservação de jazidas de argila. ‘Apesar de ainda estarem em abundância, o procedimento pode economizar o uso da jazida e diminuir a área a ser reflorestada pelo produtor. Afinal, toda área de onde a argila é retirada, por lei, deve ser recuperada’, conta. Nas indústrias cerâmicas, cerca de 11 mil no Brasil, segundo a pesquisadora, são usadas mais de 15 milhões de toneladas de argila, mensalmente.

Desplastificante
Os materiais cerâmicos são compostos, basicamente, de argila e desplastificantes (quartzo e areia, entre outros). Sem estes últimos, não se consegue eliminar a água na secagem, o que causa deformação à peça. Dione explica que o lodo proveniente das ETAs podem substituir os desplastificantes, pois possuem um tamanho de grãos e uma composição química muito similares aos mesmos.

‘Numa primeira etapa já foram produzidos 5 mil blocos cerâmicos para construção civil. O material passou por diversos testes e, até o momento, foi devidamente aprovado’, conta a pesquisadora. Segundo ela, resta apenas uma análise da fumaça emitida pela chaminé da indústria. ‘Mas sabemos que os resultados serão positivos e todo o processo poderá ser validado ambientalmente’, antecipa.

Além dos blocos cerâmicos, o lodo pode ser incorporado na fabricação de telhas e tubos cerâmicos. ‘Até mesmo na cerâmica artesanal’, garante a professora. Ela informa que o resíduo pode ser aplicado, inclusive, em outros setores da indústria como na siderurgia e na fabricação do cimento. O projeto coordenado por Dione foi uma parceria entre a USP, Sabesp, Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Cetesb e a Cerâmica Mônaco.