USP: Poli cria tinta de parede sem cheiro e menos tóxica

Processo de fabricação também diminui geração de efluentes.

qua, 09/11/2005 - 20h12 | Do Portal do Governo

Depois de sete anos de pesquisas, em breve poderá chegar ao mercado uma nova tinta de parede praticamente sem cheiro e muito menos tóxica do que as vendidas atualmente. Esses benefícios serão possíveis por conta de um novo método para a fabricação de
polímeros – que são resinas usadas em tintas – resultado de um projeto de pesquisa coordenado pelo engenheiro químico Reinaldo Giudici, professor e pesquisador da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP). A pesquisa, em fase conclusiva, estásendo realizada nos laboratórios do Departamento de Engenharia Química da Poli por encomenda de uma grande multinacional produtora de polímeros.

O projeto – Desenvolvimento de processo de polimerização para a
produção de polímeros com baixo teor de monômero residual – foi financiado pela multinacional, que concedeu R$ 135 mil, e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que entrou com R$ 650 mil. No mesmo projeto, o pesquisador da Poli/USP está desenvolvendo um outro polímero, também menos tóxico e com menos cheiro, a ser aplicado em recobrimento de papel utilizado na impressão de revistas.

Polímeros nada mais são do que os conhecidos e praticamente
onipresentes plásticos, como o polietileno, o poliestireno, o náilon e o poliéster. Há ainda os chamados polímeros em emulsão, que são usados em tintas e em colas, do tipo da Tenaz.

Tecnicamente, os polímeros são macromoléculas formadas a partir de unidades estruturais menores, os monômeros, nos quais predominam as moléculas de carbono. Embora possam ser extraídos da madeira, do álcool ou do carvão – todos ricos em carbono –, hoje é mais barato produzir os monômeros a partir do petróleo.

O professor Reinaldo Giudici explica que a reação química que leva à
formação de polímeros é a polimerização. Por meio de substâncias químicas, inicia-se uma reação em cadeia que transforma as pequenas moléculas (os monômeros) em macromoléculas (os polímeros). “Nesse processo, sempre sobra um pouco de monômeros entre as grandes moléculas”, explica Giudici. “Por serem substâncias voláteis, os monômeros são os responsáveis pelo cheiro e pela toxicidade das tintas e outros polímeros.”

Por essa razão, as grandes empresas produtoras de tintas e
plásticos procuram desenvolver métodos e tecnologias de polimerização que diminuam a concentração residual de monômeros nos polímeros. “O mais comum hoje é borbulhar um gás ou vapor de água no polímero em emulsão, a fim de fazer com que os monômeros se volatizem, saiam para fora do produto”, explica Giudici. “O inconveniente é que este processo de borbulhamento gera efluentes que não podem escapar para o ambiente, pois são poluentes, e precisam ser tratados. Isso encarece o processo.”

A tecnologia desenvolvida pela equipe do pesquisador da Escola
Politécnica é diferente. “O que fizemos é prolongar e intensificar a reação química de polimerização, de modo que mais monômeros reajam e sejam transformados em polímeros”, diz Giudici. “Assim sobram menos monômeros no polímero. Já conseguimos atingir uma concentração de monômeros de apenas 100 partes por milhão (ppm), ou seja, 0,01%, ou 0,01 gramas de monômeros para cada 100 gramas de emulsão polimérica. Os processos mais eficientes no mercado hoje não conseguem concentrações menores do que 1.000 ppm, dez vezes
maior do que a que conseguimos.” Com isso, além de reduzir o cheiro, o novo processo tornará as tintas dez vezes menos tóxicas, e os processos de fabricação gerarão menos efluentes a serem tratados.