USP: Pesquisadores usam inteligência artificial para melhorar produção de gado de corte

Idéia está sendo colocada em prática no Departamento de Zootecnia da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos

ter, 03/06/2003 - 20h42 | Do Portal do Governo

A inteligência artificial chega ao campo. Em breve, criadores de gado da raça Nelore poderão avaliar todo o ecossistema de pastagens do tipo Braquiarão (Brachiaria brizantha) e o rebanho por meio de um software baseado em Redes Neurais Artificiais (RNAs).

Com isso, será possível estabelecer de maneira rápida, eficiente, com baixos custos, previsões mais exatas sobre o crescimento da planta forrageira e desempenho dos animais. A idéia está sendo colocada em prática no Departamento de Zootecnia da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP de Pirassununga.

Em outubro deste ano começará a ser formado o primeiro banco de dados para alimentar as RNAs. ‘Os bancos terão informações sobre características do capim-braquiarão obtidas por meio de análises químicas (bromatológicas) e de fracionamento de proteínas e carboidratos, que descrevem as qualidades desses compostos da planta, e pelas respostas das outras pesquisas envolvidas no projeto piloto. Depois de inseridas no computador, o programa processa as informações e mostra os resultados dos fracionamentos de proteínas e carboidratos’, explica engenheira agrônoma Käthery Brennecke, aluna do programa de doutorado do Departamento de Zootecnia, que vem desenvolvendo o novo software.

‘Para um futuro, podemos imaginar esse trabalho sendo feito no próprio campo pelo produtor com um notebook em mãos’, prevê a pesquisadora. Assim, o produtor poderá predizer com maior exatidão o comportamento do animal na pastagem e, até mesmo, determinar alterações no tipo de manejo, caso haja necessidade. ‘Ele poderá prever, por exemplo, o melhor desempenho do animal e adequar o manejo às suas necessidades e custo, tendo um maior rendimento no abate do animal’, diz a pesquisadora.

O estudo Fracionamento de proteínas e carboidratos de Brachiara brizantha pelo método de Cornell e o treinamento de uma RNA integra o projeto Braquiarão X Nelore, que vem sendo desenvolvido na FZEA/USP desde 2001. As pesquisas estão, atualmente, na fase de coletas de campo e análises de laboratório. Käthery espera que em 2005 o produtor já tenha acesso à nova tecnologia. ‘Até lá, certamente, a tecnologia estará totalmente concluída. Sua implantação definitiva no mercado dependerá de outros investimentos’, esclarece.

Analisando a planta
Para analisar o braquiarão, os pesquisadores realizam coletas de 64 amostras a cada 28 dias. O capim é colhido numa área do campus da USP de Pirassununga especialmente destinada ao projeto Braquiarão X Nelore, de cerca de 27 hectares.

Depois de secas e moídas, as amostras passam pelas análises bromatológicas para quantificar qualidade química e posteriormente pelo fracionamento das proteínas/carboidratos. ‘A análise de fracionamento nos fornecerá informações sobre as proteínas de maneira mais eficiente’, explica a pesquisadora. Esse tipo de informação das características do capim e a qualidade de suas proteínas vão refletir diretamente no desempenho do animal.

Com a descrição completa do ecossistema da planta, que será conseguida através dos resultados de um conjunto de pesquisas que são realizadas no projeto Braquiarão x Nelore, já inserida num banco de dados, o próximo passo é alimentar a RNA do tipo supervisionada ou cibernética, que irá corrigir possíveis erros, mostrando os resultados da equação de interação entre a planta e o desempenho do animal. O software fornecerá rapidamente resultados qualitativos da planta forrageira através da alimentação de dados visuais como características morfológicas, de número de perfilhos da planta (velocidade de crescimento) e temperatura média diária, altitude, entre outros.

Käthery lembra que o projeto, além de inédito, é multidisciplinar, envolvendo o Laboratório de Ciências Agrárias e o Laboratório de Física Computacional. ‘Além disso, a aplicação poderá ser feitas em outros tipos de plantas forrageiras e de animais’, lembra.

Antonio Carlos Quinto