USP: Pesquisadores testam nova técnica para diagnóstico do câncer de boca

Uso da espectropia de fluorescência conseguiu diagnosticar o câncer com mais confiabilidade e rapidez

seg, 20/06/2005 - 9h21 | Do Portal do Governo

Estudos realizados no Centro de Óptica e Fotônica do Instituto de Física da USP de São Carlos (IFSC) mostram a viabilidade de uso da espectroscopia de fluorescência na detecção do câncer epidemóide, que atinge regiões como a língua e os lábios. O procedimento poderá significar mais confiabilidade e rapidez nos diagnósticos. A pesquisas foram realizadas em hamsters e, ainda este ano, poderão ser feitos testes em humanos.

Atualmente, o diagnóstico deste tipo de câncer é feito por meio da retirada de uma amostra do tecido lesado que é analisada por um patologista. ‘Este profissional é quem vai diagnosticar se lesão é maligna ou benigna’, aponta a dentista Cristina Kurachi, que em sua pesquisa de doutorado avaliou a eficiência da técnica no tratamento do câncer na língua induzido quimicamente nos animais.

‘Sabemos que os resultados dos patologistas têm altas porcentagens de acerto, mas nossos experimentos mostram que a espectroscopia de fluorescência é mais segura, diminuindo o grau de subjetividade da análise, e pode fornecer resultados em tempo real’, diz.

Em seu estudo, a pesquisadora utilizou uma sonda composta por um conjunto de fibras óticas que conduzem a luz laser e coletam a fluorescência do tecido. ‘A sonda de investigação com cerca de 2 milímetros (mm) de diâmetro é composta por uma fibra central, que leva o laser, e outras seis ao redor que coletam a fluorescência emitida pelo tecido. Ao toque da sonda no tecido já temos a resposta e as informações que podem nos trazer indícios se o tecido é neoplásico ou normal’, explica Cristina.

Segundo a pesquisadora, a energia entregue provoca a excitação das biomoléculas do tecido lesado. ‘Após a excitação, ao retornarem ao estado mais estável (fundamental), as biomoléculas liberam energia, também na forma de luz, permitindo que seja feita a caracterização da lesão’, descreve. A fluorescência coletada é então enviada a um espectrômetro que analisa a intensidade e os comprimentos de onda da luz coletada.

Os pesquisadores determinaram identidades espectrais do carcinoma para possibilitar a discriminação entre normal e neoplásico. ‘A resposta dependerá dos compostos bioquímicos do tecido e como eles estão distribuídos’, conta Cristina. ‘Uma neoplasia apresentará então uma fluorescência diferente do tecido normal.’

Aplicações

Cristina acredita que, em breve, a técnica estará disponível para ser utilizada clinicamente. ‘Podemos imaginar um aparelho que, ao toque da fibra na região lesionada, nos forneça, em tempo real, informações adicionais sobre o tipo de lesão, auxiliando o clínico no diagnóstico’, diz.

Ela conta que essa técnica já vem sendo aplicada em pacientes com lesões no fígado, em colaboração com a Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto. A tese de Cristina intitulada Espectroscopia de fluorescência na detecção de lesões quimicamente induzida por agentes carcinogênico na borda lateral da língua, recebeu duas premiações na área de diagnóstico, em 2003 e 2004, durante reuniões da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica. O estudo foi feito em colaboração com a Faculdade de Odontologia da UNESP de São José dos Campos e foi orientado pelo professor Vanderlei Salvador Bagnato.

Antonio Carlos Quinto, da Agência USP