USP: Pesquisadores sugerem mudanças no ensino de crianças normais e deficientes

Novas metodologias foram reunidas em um sistema de ensino-aprendizagem intitulado Enscer

qui, 17/07/2003 - 19h49 | Do Portal do Governo

Pesquisadores da Faculdade de Medicina (FM) da USP divulgaram os primeiros resultados de uma pesquisa desenvolvida desde 1997 pela empresa EINA (Estudos em Inteligência Natural e Artificial Ltda.) sobre o desenvolvimento cerebral e cognitivo de crianças em idade escolar. O trabalho, coordenado pelos professores Armando Freitas da Rocha e Eduardo Massad, da Disciplina de Informática Médica da FMUSP, sugere modificações no processo de ensino-aprendizagem não só de crianças com algum tipo de deficiência que dificulte o ensino, como também de crianças ditas “normais”.

As novas metodologias foram reunidas em um sistema de ensino-aprendizagem intitulado Enscer. Dentro desse projeto, a EINA vem desenvolvendo softwares que possam atuar como “brinquedos pedagógicos interativos”, de acordo com as palavras do professor Armando. Segundo ele, “o software programa atividades de acordo com o currículo da criança, e ainda podemos estudar a atividade cerebral da mesma enquanto ela está desenvolvendo o exercício no computador, por exemplo”.

Entre as novas propostas educacionais defendidas pelos pesquisadores, está a da inclusão das crianças com deficiência no sistema regular de ensino. Colégios como a APAE de Jundiaí e o Colégio Clip, em Guarulhos, já vem adotando a inclusão, apresentando excelentes resultados, segundo o pesquisador. “A inclusão dessas crianças na rede regular de ensino é uma imposição das leis do País, criadas após a Declaração de Salamanca, do qual o Brasil é signatário. Passa a ser obrigação do Estado, a educação de toda e qualquer criança, independente de suas necessidades básicas”, diz ele.

Também as crianças normais necessitam ter seus métodos de aprendizagem revistos, segundo o trabalho desenvolvido pelos professores da FM. “Sabemos que os circuitos cerebrais para a matemática são inatos para o cérebro. Se são inatos, deveria ser fácil aprender, e o que a realidade nos mostra é o contrário. O erro está na maneira de ensinar. O indivíduo normal pode se safar, pois tem mais recursos, mas o deficiente encontra mais dificuldades por conta de suas lesões cerebrais”.

Mapeamento cerebral

Os pesquisadores têm elaborado um sistema de mapeamento cerebral, que caracterize com maior precisão a maneira pela qual funcionam os circuitos cerebrais em crianças normais e deficientes. O professor Armando explica que “esses funcionamentos distintos implicam logicamente diferentes formas de ensinar. Nosso estudo visa orientar melhor o planejamento do ensino segundo a função cerebral”.

Uma das descobertas mais importantes feitas pelos estudiosos foi a de que as crianças que possuem alguma deficiência cerebral ou sensorial mantém uma capacidade de aprendizagem preservada. “O cérebro dessas crianças acaba por realocar funções. O que temos que fornecer a elas é uma estimulação adequada aos seus circuitos cerebrais”, ressalta o professor Armando.

A EINA

A EINA é uma micro empresa privada criada quando do começo dos trabalhos de pesquisa, há seis anos. Sua criação se deu por uma exigência do primeiro financiamento, obtido através da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O dinheiro fazia parte de uma linha de crédito que apoiava o desenvolvimento de tecnologia em pequenas empresas. Desde então, a EINA, baseada nas diretrizes do Enscer, vem desenvolvendo softwares para diagnosticar possíveis distúrbios de aprendizagem e propondo métodos pedagógicos mais apropriados à crianças da pré-escola até a quarta série do ensino fundamental.

Mais informações pelo tel. 4535-1414 ou pelo e-mail eina@enscer.com.br

Francisco Angelo – USPonline