USP: Pesquisadores desenvolvem tecido ósseo a partir de matrizes bovinas

Produção de tecido ósseo para enxertos poderá ser empregada em lesões de cabeça e pescoço

qui, 18/12/2003 - 13h00 | Do Portal do Governo

Uma técnica para produzir tecido ósseo para enxertos a partir de ossos e pericárdio (membrana que envolve o coração) bovinos poderá ser empregada em lesões de cabeça e pescoço e na ortopedia. A pesquisa está sendo desenvolvida pelo Laboratório de Bioengenharia, Materiais e Mineralização Biológica (LBMM), da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB), ligado ao Núcleo de Terapia Celular de Doenças (Nucel), do Instituto de Química da USP.

Segundo o professor José Mauro Granjeiro, chefe do Departamento de Ciências Biológicas da FOB, já existem polímeros importados que podem ser utilizados com essa finalidade, porém a produção é cara. ‘É preferível gastar um pouco mais de tempo para desenvolvermos uma tecnologia nacional mais barata e tão eficiente quanto a outra’, afirma. Os dois tipos de suporte testados atualmente – ossos e pericárdio – são conseguidos por preço baixo.

O núcleo trabalha com essa técnica há 13 anos. O princípio é o de que, para cultivar os osteoblastos (células que produzem o osso) é necessária uma superfície em que eles possam se multiplicar e onde são aplicadas proteínas que provoquem seu desenvolvimento. ‘Essas superfícies têm uma trama de colágeno semelhante à dos humanos. Nelas, a célula óssea se liga e prolifera’, explica Granjeiro.

Aplicação em humanos

Até o ano passado, o grupo vinha pesquisando somente os ossos bovinos como matrizes para os osteoblastos. Porém, esse suporte continha resíduo tóxico, que impedia a multiplicação das células. O laboratório deu continuidade aos estudos com os ossos bovinos e conseguiu eliminar o resíduo que atrapalhava o desenvolvimento dos osteoblastos.

‘Fizemos o teste de compatibilidade do pericárdio em animais. A membrana foi introduzida sob a pele de ratos. Esse pedaço de colágeno sofreu o processo de degradação normal pelo organismo dos ratos. Se fosse tóxico, provocaria necrose no local ou reação alérgica’, relata. Segundo o professor, se as experiências correrem como o esperado, em 2004 o núcleo poderá propor à Comissão de Ética de Pesquisa em Seres Humanos a aplicação do estudo.

A pesquisa realizada pelo grupo do professor Granjeiro pode ser utilizada em fraturas extensas que necessitam de enxerto para a recomposição do osso. Para a fratura ser considerada extensa, depende do tamanho, do tipo da lesão e do osso afetado. Na base da mandíbula, ela é extensa quando há perda de três a quatro centímetros; no fêmur, de dez a 15 centímetros.

O procedimento de criação dos osteoblastos leva de 30 a 60 dias para ser concluído. Por isso, não pode ser utilizado em cirurgias de urgência, mas em cirurgias corretivas posteriores ao atendimento de emergência

Simone Harnik, Da Agência USP
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)