USP: Pesquisadores defendem a necessidade de estudos sobre o dossel de florestas

Dossel é a superfície formada pelas copas das árvores, constituindo uma transição entre a biosfera e a atmosfera

seg, 08/09/2003 - 20h40 | Do Portal do Governo

Os pesquisadores Pedro Leite da Silva Dias, do Instituto de Astronomia Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) e Dieter Anhuf, professor visitante do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, defendem a importância das pesquisas sobre o dossel das florestas – superfície formada pelas copas das árvores, constituindo uma transição entre a biosfera e a atmosfera – para várias áreas do conhecimento científico.

Os docentes são co-autores, juntamente com cientistas de universidades inglesas, norte-americanas, suecas, australianas e japonesas, de um artigo sobre o assunto publicado na revista Science de 11 de julho deste ano. A publicação faz um resumo do atual conhecimento sobre o dossel, com dados sobre biodiversidade, relações entre plantas e animais, efeito estufa e o processo de interação entre a biosfera e a atmosfera.

Entre as contribuições do professor Pedro Leite da Silva Dias, está uma revisão dos estudos sobre climatologia que envolvem a formação das chuvas na Amazônia. ‘As nuvens dessa região têm características de nuvens marítimas, com pouca espessura e muita chuva. No mar, o sal participa da condensação do vapor e, na floresta, esse papel é feito por compostos emitidos pelas plantas’, explica. ‘Como a estimativa de chuva feita via satélite normalmente é baseada na espessura das nuvens, a precipitação na Amazônia muitas vezes é subestimada. O meu interesse principal é validar os modelos de computador que simulam as trocas de energia entre a floresta e a atmosfera, o que diz respeito às chuvas e ao efeito estufa.’

Ainda segundo o professor Dias, outro ponto de interesse nas pesquisas é a formação de ventos, em áreas muito chuvosas. ‘A condensação do vapor d’água libera calor, que aquece a atmosfera e produz o vento. Quando há nuvens mais espessas, esses ventos podem ter impacto a milhares de quilômetros, atingindo outros continentes. Se as nuvens são rasas, a influência é apenas regional. Todos esses processos climáticos precisam ser melhor estudados e estão relacionados com a floresta.’

O trabalho do professor Dieter Anhuf é mais voltado para a biodiversidade e vegetação. ‘Cada bioma tem características próprias de evaporação, de transpiração e de estoque de água. Esses sistemas naturais, e também as plantações, têm influência na hidrografia regional e global. Em última análise, toda a água dos continentes, presentes nos aqüíferos, no solo, nos rios, nos seres vivos e na atmosfera vem do mar, por evaporação. Os ciclos de chuva podem mudar influenciados pelo clima e para calcularmos os efeitos das mudanças climáticas é preciso conhecer os sistemas naturais. Meu trabalho é concentrado no balanço da água doce, em âmbito local, regional ou continental.’

Guindastes
Os estudos feitos in loco no dossel muitas vezes utilizam torres, instaladas em florestas. Os pesquisadores defendem a expansão do uso de guindastes, que são mais raros e caros, porém mais ágeis e adequados para a exploração das florestas. ‘São como as gruas usadas na construção civil, formadas por uma haste de dezenas de metros de altura, que sustenta um braço capaz de girar em torno da base. Esse braço carrega uma gôndola, que leva os cientistas e os instrumentos a qualquer lugar em volta da base, a qualquer altura, sem destruir a floresta’, explica Anhuf. Segundo o professor, o maior obstáculo é o custo, principalmente porque muitas vezes o material precisa ser transportado por helicóptero.

A organização internacional Global Canopy Programme, programa global do dossel, de que o professor Anhuf participa, está requerendo recursos para a instalação de dez guindastes em vários lugares do mundo, num período de dez anos. Um deles ficaria ao norte de Manaus, o que beneficiaria o programa LBA, sigla em inglês de Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia, liderado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, com participação de várias unidades da USP. ‘Nós intermediamos o pedido de recursos internacionais, mas eles só são dados se há interesse dos órgãos dos países que os recebem’, diz Anhuf. ‘A instalação desse tipo de equipamento só é justificada se ele for utilizado por pesquisadores de várias árias’, completa Pedro Leite da Silva Dias.

Mais informações: (11) 3091-3919, no IEA (11) 3091-4713, no IAG

Lucas Oliveira Telles – Agência USP