USP: Pesquisadores de São Carlos desenvolvem projeto para tratamento de efluentes

Eles trabalham em vários equipamentos, incluindo-se novos reatores para tratamento de esgoto

qui, 06/02/2003 - 13h01 | Do Portal do Governo

O progressivo aumento no consumo de água, decorrente do crescimento da população e incremento das atividades agrícolas e industriais, exige iniciativas que devem considerar o reuso da água. Um grupo de pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo (USP) está desenvolvendo projetos que podem contribuir para a preservação de fontes naturais, como rios, lagos e represas.

Eles trabalham em vários equipamentos, incluindo-se novos reatores para tratamento de esgoto. A água resultante do processo servirá para usos menos nobres (necessidade de potabilidade), como em atividades industriais, lavagens de rua ou irrigação de culturas, cujos produtos não sejam consumidos sem cozimento.

O foco dos estudos desses pesquisadores são sistemas para tratamento de esgotos sanitários e efluentes industriais que utilizam microorganismos anaeróbios (bactérias e seus parentes, que não necessitam de oxigênio para sobreviver) para fazer a purificação de águas residuais. Embora pouco utilizado no País, esse processo biológico tem tradicional linha de estudos. Na EESC, desde os anos 70, pesquisadores estudam e desenvolvem novas configurações de reatores anaeróbios.

“Depois de três décadas de pesquisa, chegou a hora de alguns dos sistemas estudados serem colocados em prática”, afirma o engenheiro Eugênio Foresti, diretor da Escola de Engenharia de São Carlos. Confirma, também, que a EESC negocia com o governo do Estado a montagem de uma estação-piloto de tratamento anaeróbio numa pequena cidade na região de São Carlos. “É a oportunidade que faltava para os pesquisadores apresentarem, na prática, a eficácia do processo”.

Baixo custo

Coordenando o terceiro projeto temático, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), sobre o assunto, o diretor da EESC garante que a universidade está desenvolvendo tecnologias alternativas de baixo custo e mais adequadas ao País.

Os sistemas biológicos anaeróbios nasceram como opção aos processos aeróbios (que exigem a presença de oxigênio para viver), uma tecnologia bem mais consolidada e empregada. Os dois sistemas utilizam microorganismos que se alimentam dos poluentes presentes nos esgotos domésticos e efluentes industriais. Eliminam a matéria orgânica que está dissolvida na água.

Por não precisarem de oxigênio, os anaeróbios apresentam uma vantagem sobre os processos aeróbios, que é o baixo consumo de energia, porque não necessitam de nenhum processo de aeração.
‘O gasto energético dos tratamentos anaeróbios equivale, em média, a 30% do gasto dos aeróbios’.

Outra vantagem dos processos anaeróbios é a menor produção de lodo que não chega a 10% do que é gerado nos aeróbios, resultando em economia no manejo e na destinação final desse resíduo.

Os sistemas de tratamento anaeróbios são pouco empregados no Brasil em decorrência de razões históricas. No começo da década de 80 foram iniciados estudos para uso dessa tecnologia. Mas a exploração inadequada, por falta de conhecimentos técnicos, gerou desconfianças contra a sua confiabilidade.

Um dos problemas era o forte odor exalado pelos reatores da época, resultado da produção de gás sulfídrico, um subproduto do tratamento anaeróbio. Com o aprimoramento da tecnologia, muitas deficiências foram sanadas.

Existem trabalhos que tratam da remoção ou estabilização das substâncias que provocam o odor nos sistemas anaeróbios. “Esses sistemas estão ganhando espaço. São cada vez mais empregados em unidades industriais”, afirma o diretor da EESC.

Os sistemas anaeróbios deverão complementar os sistemas aeróbios. Segundo o pesquisador, o ideal deveria combinar o uso dos dois tipos de reatores. Ele explica que os sistemas anaeróbios requerem um complementar que pode ser tanto o aeróbio quanto os físico-químicos (microfiltragem, precipitação química seguida de sedimentação, ozonização, desinfecção por cloro ou radiação ultravioleta) para que os efluentes possam atingir padrões de qualidade.

Da Agência Imprensa Oficial
(Fonte: www.fapesp.br)