USP: Pesquisadores coletam dados na cobertura verde das florestas

Informações contribuem para os estudos sobre hidrografia, climatologia e vegetação

qui, 11/09/2003 - 13h09 | Do Portal do Governo

Os professores Pedro Leite da Silva Dias, do Instituto de Astronomia Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), e Dieter Anhuf, do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, realizam pesquisas sobre a cobertura verde das florestas. Esta área é formada a partir da superfície das copas das árvores e constitui ponto de transição entre a biosfera e a atmosfera.

As informações obtidas contribuem para os estudos sobre hidrografia, climatologia e vegetação. Os docentes são co-autores – em parceria com pesquisadores ingleses, suecos, australianos e japoneses – de artigo publicado na revista Science, edição de 11 de julho.

Reportagem resume o atual conhecimento científico a respeito da cobertura verde e apresenta dados sobre biodiversidade, relações entre plantas e animais, efeito estufa e o processo de interação entre a biosfera e a atmosfera.

Entre as contribuições do professor Silva Dias está sua revisão dos estudos sobre climatologia que envolvem a formação das chuvas na Amazônia. “As nuvens dessa região têm características marítimas, isto é, pouca espessura. No mar, o sal participa da condensação do vapor e, na floresta, esse papel é feito por compostos emitidos pelas plantas”, explica.

Formação dos ventos

“Como a estimativa de chuva feita via satélite normalmente é baseada na espessura das nuvens, a precipitação na Amazônia muitas vezes é subestimada. Meu interesse principal é validar os modelos de computador que simulam as trocas de energia entre a floresta e a atmosfera, notadamente o que diz respeito às chuvas e ao efeito estufa.”

Na opinião do professor do IAG, outro ponto de interesse nas pesquisas é a formação de ventos em áreas chuvosas. “A condensação do vapor d’água libera calor, que aquece a atmosfera e produz o vento. Quando há nuvens mais espessas, esses ventos podem ter impacto a milhares de quilômetros, atingindo outros continentes. Se as nuvens são rasas, a influência é apenas regional. Todos esses processos climáticos precisam ser cuidadosamente estudados e estão relacionados com a floresta”, conclui.

Biodiversidade e vegetação

O trabalho do professor Dieter Anhuf é dirigido para a biodiversidade e vegetação. “Cada bioma tem características próprias de evaporação, transpiração e estoque de água. Esses sistemas naturais e as plantações influem na hidrografia regional e global. Em última análise, toda a água dos continentes – presente nos aqüíferos, no solo, nos rios, nos seres vivos e na atmosfera – vem do mar, por evaporação. Os ciclos de chuva podem mudar influenciados pelo clima. Para calcularmos os efeitos das mudanças climáticas é preciso conhecer os sistemas naturais. Meu trabalho é concentrado no balanço de água doce, em âmbito local, regional ou continental.”

Expansão dos guindastes

Os estudos de campo feitos na cobertura verde muitas vezes utilizam torres, instaladas em florestas. Os pesquisadores defendem a expansão do uso de guindastes, mais raros e caros, porém mais ágeis e adequados para a exploração. ‘Como as gruas usadas na construção civil, os guindastes são formados por uma haste de dezenas de metros de altura, que sustenta um braço capaz de girar em torno da base. Ele carrega uma gôndola, que leva os cientistas e instrumentos a qualquer lugar e altura em volta da base, sem destruir a floresta’, explica Anhuf, acrescentando que o maior obstáculo é o custo, principalmente porque muitas vezes o material precisa ser transportado por helicóptero.

Lucas Telles
Da Agência USP de Notícias

(AM)