USP: Pesquisadora faz alerta contra bronzeamento na pele

Exposição excessiva ao sol pode aumentar risco de câncer

ter, 16/11/2004 - 10h01 | Do Portal do Governo

Do Portal da USP
Por Mariana Delfini

‘A valorização estética da pele bronzeada é responsável pelo aumento da exposição à radiação ultra-violeta’

O verão está chegando. E, com ele, os banhos de sol, que podem causar queimaduras responsáveis pelo desenvolvimento de melanoma, que é a transformação maligna das células produtoras de pigmentos da pele. ‘A divulgação de que pele bronzeada não é saudável, mas sim resultado de danos provocados por radiação solar, poderia provocar mudança de comportamento e reduzir os índices de melanoma nas próximas gerações’, conta a pós-doutoranda Sônia Regina Pereira de Souza, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP.

Sonia analisou artigos científicos sobre exposição ao sol publicados na base de dados Medline, produzida pela National Library of Medicine de Washington, e na Excerpta Medica, produzida pela Elsevier Scientific Publications de Amsterdam, entre 1977 e 1998 e verificou que três idéias estimulam o bronzeamento: pele bronzeada torna a pessoa mais atraente; o bronzeamento traz benefícios à saúde; e previne os efeitos indesejáveis de futuras exposições ao sol.

O número de casos de melanoma cresceu no mundo todo nos últimos 40 anos. Em países como Estados Unidos e Austrália, porém, a mortalidade se manteve constante ou diminuiu, enquanto no Brasil ainda crescem os números de casos de morte provocada por melanoma. No estado de São Paulo, 167 mulheres e 210 homens tiveram o melanoma como causa do óbito em 2001.

Vaidade

As fortes influências que grupos e formadores de opinião exercem sobre os jovens incentivam a exposição excessiva ao sol. As campanhas que divulgam somente os riscos e formas de proteção não resultam em mudança de comportamento. Para a pesquisadora, uma campanha que mostrasse os prejuízos do sol na aparência seria mais efetiva, uma vez que é o padrão estético um dos incentivadores dessa exposição.

Um estudo realizado na Universidade da Califórnia, nos EUA, exemplifica a sugestão de Sonia. Dois grupos de 34 pessoas assistiram à exibição de um filme sobre os sinais do fotoenvelhecimento, e membros de um dos grupos tiveram suas peles fotografadas. Nessas fotos, os estragos causados pelo sol eram mostrados em detalhes. O grupo que viu sua pele com sinais do fotoenvelhecimento alterou seu comportamento em relação à exposição ao sol, enquanto no outro grupo não se observou mudanças.

Na História

A valorização estética da pele bronzeada é responsável pelo aumento da exposição à radiação ultra-violeta. No século XIX, o bronzeado era associado à parcela da população responsável por trabalhos braçais, sendo, assim, indesejado. Depois da Revolução Industrial, o trabalhador passou para ambientes internos e a pele deixou de ser marcante da condição social.

O estereótipo se inverteu a partir dos anos 20, quando centros formadores de opinião em moda, como a França, estabeleceram o bronzeado como padrão estético desejável e sinal de riqueza, já que indicava disponibilidade de tempo e recursos para se dedicar ao lazer.

V.C.