USP: Pesquisador identifica sítios arqueológicos subaquáticos no baixo Vale do Ribeira

Pesquisa pioneira na arqueologia brasileira resultou na identificação de 14 sítios arqueológicos

sáb, 03/04/2004 - 11h53 | Do Portal do Governo

Uma pesquisa pioneira na arqueologia brasileira resultou na identificação de 14 sítios arqueológicos subaquáticos localizados no Baixo Vale do Ribeira, em São Paulo. ‘A pesquisa arqueológica subaquática é tão importante quanto àquela realizada em superfície, pois também representa um patrimônio cultural que necessita ser preservado’, define o pesquisador Gilson Rambelli, que apresentou seu estudo de doutorado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), da USP.

Rambelli identificou sítios arqueológicos (sambaquis, naufrágios, fortificações e depositários) localizados em rios e no mar das regiões de Cananéia, Ilha do Cardoso, Ilha Comprida e Ilha do Bom Abrigo, no Baixo Vale do Ribeira. ‘A idéia foi levantar informações para a criação de uma política de proteção e gestão desses sítios por meio da concretização de um inventário do patrimônio arqueológico subaquático da região.’

Uma dessas possibilidades de gestão, segundo o pesquisador, é a implementação do turismo de mergulho – com enfoque arqueológico – visando o desenvolvimento sustentável. ‘O projeto já prevê a sinalização dos sítios identificados, mas ainda não há previsão de quando isso acontecerá’, conta.

Outro ponto destacado por Rambelli é que a pesquisa contribui para desmistificar a idéia de que existem ‘tesouros’ a serem descobertos, principalmente nos casos de naufrágios. Ele ressalta a necessidade de conscientização da sociedade e, principalmente, de mergulhadores, para evitar, por exemplo, a comercialização de objetos retirados de sítios submersos. ‘O problema maior é que a própria Lei Federal 10.166/00 permite este tipo de exploração dos sítios de naufrágios por empresas nacionais e estrangeiras de caça ao tesouro’, esclarece.

Durante a elaboração do estudo, que teve apoio financeiro da Fapesp e integra o Programa Arqueológico do Baixo Vale do Ribeira, coordenado pela professora Maria Cristina Scatamacchia, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, Rambelli e equipe – formada por outros arqueólogos e mergulhadores – puderam realizar um trabalho de conscientização com estudantes. ‘O turismo ambiental é muito freqüente em Cananéia e a cidade recebe alunos de várias localidades. As palestras sobre arqueologia subaquática foram muito bem recebidas por esses jovens.’

Vapor Conde D’Áquila

O pesquisador utilizou como estudo de caso o vapor Conde D’Áquila, que naufragou em Cananéia em 1858. Segundo a lenda do naufrágio, um marinheiro teria afirmado que, se ao passar pela cidade com o vapor faltasse carvão, a solução seria usar como ‘combustível’ as pernas da imagem de madeira do padroeiro, São João Batista. O vapor acabou se incendiando e naufragou. A população entendeu o ocorrido como um ‘castigo divino’. Rambelli conta que a lenda foi passada de geração em geração e era comum ouvir a história entre os habitantes de Cananéia.

O pesquisador explica que em 1937, a Marinha precisou dinamitar os destroços do vapor, localizados ao lado do píer da balsa de Cananéia, pois eram um obstáculo para a navegação local. Já nos anos 80, moradores da cidade contrataram uma empresa de mergulho para localizar um suposto tesouro que estaria no Conde D’Áquila. ‘Apesar de tantas intervenções, os destroços do vapor ainda têm importância histórica e cultural. Além disso, quando mergulhamos, não encontramos nenhum tesouro, mas sim uma certa quantidade de carvão, o que nos deu argumento para contestar a tese de ‘castigo divino”, brinca Rambelli.

Mais informações: (11) 9607-5478, e-mail rambelli@arqueologiasubaquatica.org.br

Valéria Dias – Agência USP