USP: Pesquisa investiga influência das queimadas de cana em doenças respiratórias

Problema agrava-se nos meses de inverno no Interior de São Paulo

sex, 09/09/2005 - 18h11 | Do Portal do Governo

Charles Nisz

As queimadas que envolvem a colheita da cana e o clima frio e seco dos meses de inverno pode ser uma combinação que aumente o número de casos de afecções respiratórias nos hospitais do interior de São Paulo. Para investigar essa hipótese o pesquisador Fábio Lopes estruturou um Sistema de Informações Geográficas (SIG) utilizando as informações sobre queimadas obtidas no Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE). Os dados sobre internações são de um levantamento da DATASUS -banco de dados do Sistema Único de Saúde (SUS) -, realizado em hospitais do interior paulista.

A proposta de Fábio Lopes é inovadora, pois, ‘apesar de existirem inúmeras bases de dados no País e recursos informáticos avançados, as informações sobre queimadas e internações respiratórias não são cruzadas, impossibilitando que pesquisas multidisciplinares sejam desenvolvidas’. A metodologia utilizada na pesquisa analisou os mapas de áreas de queimadas produzidos pelo IBGE de 2000 a 2004, depois focando na região de Bauru (SP), sobrepondo aos dados de internações relacionadas a problemas respiratórios nessa região.

O SIG é um software que auxilia na fusão de dados obtidos em bases diferentes. A fusão acontece por meio da elaboração de gráficos e mapas por sobreposição de camadas, fundindo os mapas em um, possibilitando uma análise da situação observada. Essa ferramenta tem se mostrado útil como apoio a estudos interdisciplinares, onde a combinação de dados não é feita de modo automático.

Foram criadas cartas temáticas – mapas que relacionam mais de um tipo de dados – a partir das variáveis levantadas e identificadas áreas de interesse para estudos em escala local. Algumas técnicas de geoprocessamento como ampliação de mapas (zoom) e buffer (delimitação de área circundando um ponto específico) foram utilizadas nesta pesquisa. Lopes aplicou a técnica buffer demarcando áreas de impacto de queimadas a partir dos focos de calor captados por satélite (indício de queimadas).

A dissertação de Lopes não estabelece uma relação de causa e efeito entre os dois fatores e o objetivo do pesquisador é analisar a questão mais profundamente, num programa de doutorado, para minimizar as internações criando políticas de saúde pública preventivas: ‘Precisamos aprofundar o estudo, eliminando as variáveis de confusão, – fatores que podem distorcer a análise -, para poder determinar se há uma relação de causa e efeito entre os fatores estudados’, explica ele.

Legislação

Ainda que danoso ao ambiente e à saúde, a prática das queimadas oferece algumas vantagens aos produtores de cana. Já o uso de colheitadeiras acaba por danificar algumas plantas, não produzindo total rendimento; a colheitadeira colhe e separa a cana das folhas com um custo econômico maior e produtividade menor.

O decreto-lei Estadual 47700/2003 prevê que até o ano de 2031 a colheita não deverá mais ser feita utilizando-se de queimadas. A preocupação da indústria canavieira é buscar alternativas a esse método de colheita, otimizando a produção e não encarecendo os custos.

Esse é um aspecto importante, pois existe a previsão de crescimento de 50% do setor canavieiro nos próximos dez anos. Atualmente, o setor responde por 6% do PIB nacional. O principal impulsionador desse crescimento é a demanda do setor automobilístico pelos chamados carros ‘flex-power’ (carros bi-combustíveis, que utilizam gasolina e álcool).

Da Agência USP de Notícias