USP: Pesquisa inédita avalia transtornos psiquiátricos em crianças e adolescentes

Instituto de Psiquiatria avaliou disgnósticos de cerca de 2 mil crianças

qui, 28/11/2002 - 21h01 | Do Portal do Governo

O Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC/FMUSP) divulga nesta sexta, dia 29, às 11 horas, durante evento de encerramento das comemorações de seus 50 anos, no Anfiteatro do Instituto, resultados completos de estudo inédito no Brasil, coordenado pela psiquiatra Bacy Fleitlich, do IPq, e por Robert Goodman, do Institute of Psychiatry, King’s College, de Londres, que avaliou a prevalência de transtornos psiquiátricos em crianças e adolescentes, entre 7 e 14 anos, em cidades de médio porte e seus arredores no sudeste de São Paulo.

‘Nosso objetivo é determinar as necessidades na área de saúde mental na infância e adolescência no Brasil, para direcionar o planejamento e aprimoramento dos serviços de saúde mental infantil no País’, ressalta Bacy. ‘Atualmente as estatísticas são todas importadas, e a maioria é de países desenvolvidos, as quais provavelmente não ilustram a realidade brasileira’.

A avaliação foi feita com cerca de 2 mil crianças a partir de entrevistas psiquiátricas que fornecem diagnóstico. ‘As entrevistas foram originalmente desenvolvidas para serem usadas em países desenvolvidos, por isso tivemos o cuidado de testar as entrevistas em um estudo piloto realizado na cidade de Campos do Jordão’, afirma Bacy. O levantamento durou um ano e meio e foi feito em duas fases. A segunda avaliou a prevalência de transtornos psiquiátricos na cidade de Taubaté.

A amostra de crianças foi sorteada de modo a cobrir todas as faixas sócio-econômicas, com taxa de participação de 83%, a qual corresponde a porcentagem de crianças que efetivamente participaram do estudo sobre o total de crianças originalmente sorteadas. ‘A taxa de participação do nosso estudo é considerada bastante elevada, e isto é importante pois evita erros estatísticos no caso de amostras tendenciosas, onde só um pequeno grupo do total de sorteados aceita participar.’

A amostra foi estratificada em três grupos: classe média urbana, classe baixa urbana e classe baixa rural. A incidência de transtornos psiquiátricos foi de 12,5%. Segundo a pesquisa, as áreas definidas como classe baixa urbana apresentaram a taxa mais elevada (13,7%).

O grupo denominado classe média urbana teve a menor taxa (5,9%), e o de classe baixa rural, 11,4%. Entre os principais transtornos psiquiátricos encontrados, os de conduta prevaleceram, somando 7%. Transtornos ansiosos ficaram em 5% e tanto depressão como transtorno de hiperatividade acometiam 1% da população.

Os transtornos de conduta são caracterizados por comportamento agressivo ou desafiante, que vai além das travessuras infantis ou da rebeldia do adolescente. O quadro inclui manifestações excessivas de agressividade e de tirania; crueldade com relação a outras pessoas ou a animais; destruição dos bens de terceiros; condutas incendiárias; roubos; mentiras repetidas; cabular aulas e fugir de casa; crises de birra e de desobediência anormalmente freqüentes e graves.

O estudo evidenciou também que crianças que sofrem agressão física, presenciam violência doméstica e têm mães com possível comprometimento mental têm o dobro de chances de desenvolver doenças psiquiátricas do que as demais.

Este trabalho é parte de projeto de grande porte, que investiga a prevalência de transtornos psiquiátricos em crianças e adolescentes na região sudeste do País e pretende conhecer a real demanda desses transtornos no Brasil, visando adequar os serviços de saúde mental oferecidos à população.

A gravidade de repercussões dos transtornos mentais na infância e adolescência, assim como as altas taxas principalmente em regiões mais carentes, indicam a necessidade e a importância da implantação e implementação de serviços de saúde mental comunitários para crianças e adolescentes. Ainda não existe no Brasil um plano bem estruturado sobre como e o que oferecer em termos de serviços de saúde mental infantil, e os resultados desse estudo serão úteis para ajudar no planejamento.

A prevenção e o tratamento desses transtornos têm impacto concreto no futuro dos jovens, favorecendo a diminuição de criminalidade, abuso de substâncias, abandono escolar, desenvolvimento de transtornos de personalidade e transtornos mentais na vida adulta, além de propiciar que se desenvolvam com maior capacidade de atuar como pais.

O estudo foi financiado pelo Wellcome Trust, órgão inglês de financiamento de pesquisas, e contou com o apoio integral das prefeituras de Campos do Jordão e de Taubaté, possibilitando a colaboração de uma equipe de psicólogos e outros profissionais que foram os responsáveis por toda a coleta de dados.

O IPq fica na rua Dr. Ovídeo Pires de Campos, s/n. – 1º andar, Pinheiros, São Paulo.

Mais informações: (0xx11) 3083-0473