USP: Pesquisa estuda novo remédio contra mal de Chagas

Resultados vistos até agora, em células in vitro e em camundongos, têm animado os pesquisadores

qua, 04/06/2003 - 20h50 | Do Portal do Governo

Cientistas brasileiros da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto (FCFRP) e da Universidade de Franca (Unifran) estão próximos de desenvolver, em conjunto, um novo medicamento contra a doença de Chagas, mal que afeta mais de seis milhões de brasileiros e que mata mais de mil a cada ano.

O novo medicamento tem como princípio ativo a cubebina, uma substância extraída a partir da semente seca da pimenta asiática (Piper cubela).

A pesquisa, em sua fase inicial ainda, tem se mostrado muito promissora, segundo o professor da FCFRP, Sérgio de Albuquerque. ‘A potencialidade da nova substância é muito boa’, diz. Embora não represente a cura definitiva do mal, a nova droga tem se mostrado bem mais eficiente do que os atuais disponíveis no mercado, como o Rochagan, que tem por base o benzonidazol.

Os resultados vistos até agora, em células in vitro e em camundongos, têm animado os pesquisadores. ‘Os medicamentos existentes hoje possuem vários efeitos colaterais. Afetam o sistema hepático dos pacientes, e acredita-se que alguns induzam a características mutagênicas, por exemplo. Já a cubebina praticamente não apresentou tais efeitos’, ressalta o professor Sérgio.

A descoberta do potencial da cubebina se deu quase que acidentalmente, segundo o próprio pesquisador. ‘Na verdade, um colega nosso estava estudando os efeitos da cubebina contra a malária, e numa conversa informal, ele propôs que testassemos a substância contra o Trypanossoma cruzi (protozoário causador da doença)’, conta.

O potencial de um novo remédio contra a doença de Chagas desenvolvido por brasileiros é enorme, tanto do ponto de vista da saúde pública, como de mercado, já que, como o próprio professor Sérgio ressalta, ‘o mal de Chagas é um problema tipicamente latino-americano’, atingindo cerca de 16 milhões de pessoas na região, segundo números da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No Brasil, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) estima que a vigilância sanitária gaste por volta de R$70 milhões no combate aos besouros vetores da doença, conhecidos como barbeiros ou chupanças, e com os gastos com internações e remédios para os chagásticos. Além disso, o professor Sérgio lembra o grande prejuízo social causado pela doença, cujos sintomas graves podem se manifestar de 10 a 20 anos após o contágio. ‘Muitos doentes acabam tendo que se aposentar por invalidez’, ressalta.