USP: Pesquisa da FAU mostra causas da degradação do Tietê

Falta de um projeto orientador para a ocupação das áreas marginais seria um dos fatores

qui, 17/04/2003 - 9h39 | Do Portal do Governo

Da Agência Imprensa Oficial e Agência USP


Uma pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP investigou as causas da degradação ambiental e paisagística do rio Tietê e suas margens, no município de São Paulo. Na dissertação de mestrado O desenho da paisagem à beira-rio: as metamorfoses da várzea do rio Tietê na cidade de São Paulo, o arquiteto Iraúna Bonilha aborda também aspectos gerais da estruturação urbana das várzeas paulistanas.

Inicialmente, Bonilha fez um apanhado geral da história do urbanismo e da arquitetura da paisagem, reunindo alguns exemplos significativos de projetos à beira-rio em grandes cidades européias e americanas. Depois dessa retrospectiva, o pesquisador passou a estudar o processo de transformação da paisagem na grande várzea paulistana.

Analisou também, os projetos e os fatos mais importantes que condicionaram esse processo, desde a época em que o rio tinha seu curso sinuoso e sua várzea inundável, até os dias de hoje, retificado e canalizado e com sua várzea toda ocupada por construções e avenidas marginais.

As obras de retificação e canalização do Tietê começaram no final do século 19, mas só foram executadas a partir do final da década de 30. As marginais surgiram em meados dos anos 60, quando o rio já estava morto, obstruindo de vez o acesso público às margens.

Segundo o arquiteto, vários projetos urbanísticos foram feitos para a várzea do Tietê, mas a maior parte não deixou marcas concretas na paisagem. ‘O resultado é um acúmulo de obras e intervenções não necessariamente fiéis a um projeto, embora o Plano de Avenidas, de Prestes Maia (1930), tenha definido o papel das margens do Tietê, assim como do Pinheiros, como eixos de circulação rodoviária.’

Limpeza e inundações

Para o pesquisador, o problema mais difícil de ser combatido não é a poluição do rio por esgotos: ‘A ocupação irregular das encostas da Serra da Cantareira expõe o solo à ação desagregadora das chuvas e faz com que o material seja carregado e se deposite no leito do rio. Isso diminui a capacidade de escoamento do canal’, explica.

Bonilha declara que as enchentes são processos naturais, mas as inundações são conseqüências de processos combinados de ocupação do solo, a começar pelas planícies de várzea, locais que serviam como reservatórios naturais das cheias. ‘Se o Estado investir na ampliação da rede de coleta e tratamento de esgotos, é possível eliminar até 50% da poluição que afeta o rio’, recomenda.

Ele lembra, ainda, que a questão do assoreamento é mais difícil de ser combatida. ‘Não depende apenas de manutenção e dragagem periódica, mas de um controle profundo e eficaz sobre o processo de produção da cidade, medida que nunca foi tomada.’

Para ele, o maior erro do urbanismo paulistano foi a definição das avenidas marginais, que impossibilitou o uso das margens fluviais como espaços livres públicos. ‘Uma solução, já indicada pelo projeto vencedor do último concurso público de reurbanização das marginais (1998/99), é a possibilidade de implantação de projetos em áreas-piloto ao longo das marginais, aproveitando vazios remanescentes e áreas ferroviárias e industriais’, recomenda.

(AM)