USP: Pesquisa acadêmica da ECA originou o premiado Contra Todos

O longa de estréia já foi exibido e premiado em diversos Festivais nacionais e internacionais

qui, 18/11/2004 - 13h06 | Do Portal do Governo

O filme conta a história de uma família na periferia da cidade de São Paulo, uma região marcada pela ausência do Estado e pela naturalidade da violência.

Um detalhe fundamental do premiado filme Contra Todos, que estréia em circuito nacional nesta sexta-feira (19), é que ele se originou da tese de doutorado de seu diretor, Roberto Franco Moreira, cineasta e professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, onde defendeu sua tese em 2002.

O estudo de Moreira é composto por duas partes: o roteiro e um comentário crítico no campo da teoria literária. ‘Embora não tratem exatamente do mesmo objeto possuem diversas ligações. O que escrevi na tese não é sobre o meu filme, mas sobre temas e questões com que ele trabalha’, explica.

Na parte teórica deste trabalho, Moreira discutiu a relação entre dois gêneros literários muito populares, o melodrama e a tragédia, e como funciona a dinâmica da violência inserida nestes contextos. O cineasta dá uma visão pragmática das diferenças entre os gêneros: ‘enquanto o trágico vai ao encontro de sua própria destruição sabendo disso, o melodramático sofre sem consciência, é uma vítima’.

Ele analisou duas das mais famosas peças de Shakespeare: Othello e Macbeth. ‘Em geral, na ficção a violência dentro da família é trabalhada, seja numa trama melodramática, seja trágica. Procurei apontar a presença destes dois gêneros nas peças analisadas’, diz o cineasta. Esta é uma das chaves que liga Shakespeare, com suas histórias de traição e morte familiar, e Contra Todos, com seu apelo realista e igualmente fratricida.

O filme conta a história de uma família na periferia da cidade de São Paulo, uma região marcada pela ausência do Estado e pela naturalidade da violência. Cada um dos familiares possui segredos inconfessáveis, até que um frequentador deste círculo social é assassinado. Esse é o estopim que irá desmascarar a hipocrisia das relações e fará com que cada um reveja suas posições, encaminhando o filme para um desfecho surpreendente.

Tudo a favor

Originalmente com o título Deus contra todos, o roteiro foi analisado diversas vezes por diferentes pessoas, aliando as boas idéias e corrigindo os trechos que não satisfaziam o diretor. ‘Tudo isso ajudou a amadurecer o roteiro’, reconhece Moreira. ‘Além disso, tive cinco pessoas extremamente qualificadas na minha defesa da tese que se debruçaram sobre o roteiro. Isso faz com que no final o resultado seja qualitativamente diferente’.

Tal qualidade já valeu ao roteiro e ao filme diversos prêmios nacionais e internacionais, a começar pelo que viabilizou a produção da obra. Moreira venceu um concurso do Ministério da Cultura para financiamento de telefilmes que, somado ainda a outros apoios, possibilitaram ao cineasta passar suas idéias do papel para a tela. O longa já foi premiado e exibido em vários eventos nacionais e internacionais, como o Festival Rio 2004, o Festival Latino-americano de Trieste (Itália) 2004, a Mostra BR de Cinema – Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o Festival de Berlim 2004 e o Festival Internacional de Cinema de Hong Kong.

Apesar de Contra Todos já ter obtido todo este sucesso, boa parte do público brasileiro ainda não teve a oportunidade de apreciá-lo. Para quem deseja saber que tipo de longa-metragem irá encontrar nos cinemas, Moreira desmistifica: ‘algumas pessoas dizem que o filme é uma tragédia, mas no fundo é um melodrama em que todos os personagens são vítimas’.

André Benevides, Da Agência USP

M.J.