USP: Palestras são os meios de comunicação pública mais eficazes para informar idosos

A conclusão é da jornalista Devani Salomão, que pesquisou, em seu doutorado na USP

qua, 10/08/2005 - 17h21 | Do Portal do Governo

Nem rádio, nem televisão, nem jornal, nem cartilha, nem revista: é por meio de palestras que a população idosa prefere receber informações na área da saúde.

A conclusão é da jornalista Devani Salomão, que pesquisou, em seu doutorado, quais os veículos de comunicação na área da saúde pública eram os mais adequados para informar a população acima de 60 anos na cidade de São Paulo.

‘Isso acontece porque o idoso, mesmo que seja analfabeto, tem a possibilidade de interagir com o palestrante e tirar suas dúvidas’, conta Devani, que defendeu sua pesquisa no último mês de maio na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

A jornalista entrevistou 32 idosos, atendidos em Unidades Básicas de Saúde da Capital e também do Centro de Referência do Idoso, no bairro de São Miguel Paulista. Devani perguntou quais meios de comunicação eles preferiam para receber informação sobre saúde e o por quê. As respostas indicaram que as palestras tiveram a preferência de 20% deles; rádio, 16%; jornais, 12%; televisão, 12%; cartilhas 11% e revistas, 10%.

Os entrevistados, com idades entre 60 e 75 anos, possuíam renda familiar de até cinco salários mínimos, sendo que a maioria deles (23) tinha até quatro anos de escolaridade. O grupo estudado era composto por pessoas casadas (63%), brancos (94%) e as mulheres representavam 78%.

Idoso real X idoso idealizado

Para realizar seu estudo, a jornalista tomou como base a cartilha do Ministério da Saúde ‘Viver mais e melhor – Guia completo para você melhorar sua saúde e qualidade de vida’. O material havia sido distribuído basicamente em postos de saúde em todo o Brasil nos anos de 1999 e 2000. De acordo com a pesquisadora, era época da campanha de vacinação de idosos contra a gripe e havia um grande número deles internados. ‘Foi aí que o ministério teve a idéia de elaborar e distribuir 21 milhões de exemplares da cartilha’, diz.

Devani analisou o conteúdo da publicação e verificou a opinião dos idosos a respeito do material. A conclusão foi que o uso da cartilha como meio de divulgar informações para os idosos não foi eficiente. ‘A cartilha possuía um conteúdo que não era indicado para a população que usa o Sistema Único de Saúde (SUS), em sua maioria muito pobre e analfabeta’, conta. ‘No aspecto gráfico, dificultava o entendimento porque apresentava um visual poluído, com muito texto, mistura de tipos de letras, sendo muitas delas pequenas.’

‘Além disso, o idoso mostrado na cartilha está distante da realidade da grande maioria dos velhos do País. O idoso da cartilha é branco, de classe média urbana, morador do Sudeste e com valores culturais típicos dos moradores de uma megalópole’, explica. ‘Criou-se um estereótipo e a cartilha foi feita com base nesse idoso idealizado.’

Dados do ano 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que existem no Brasil cerca de 8 milhões de idosos entre 60 e 69 anos. Para o ano de 2030, o IBGE indica uma projeção de mais de 21 milhões de pessoas nesta faixa etária. ‘Esse aumento do número de idosos no País mostra a necessidade de os governos se prepararem a fim de melhor atender esta população’, ressalta Devani.

Mais informações: (011) 4612-2953 ou e-mail: devanisalomao@uol.com.br

Da Agência USP
C.A.