USP: Pacientes de câncer necessitam assistência global que vá além da medicação

conclusão do estudo é da enfermeira Anna Claudia Yokoyama dos Anjos

sex, 23/09/2005 - 9h21 | Do Portal do Governo

O tratamento quimioterapêutico poderia ser menos traumático se houvesse um acompanhamento da equipe de saúde que englobasse a vida do paciente como um todo, o chamado procedimento holístico. O suporte médico não deveria se restringir a instruções sobre a medicação, mas sim prepará-lo para as mudanças que ele talvez venha a enfrentar em seu dia-a-dia e convívio social e familiar. Essa é a conclusão do estudo da enfermeira Anna Claudia Yokoyama dos Anjos, que acompanhou o tratamento de uma paciente de câncer de mama por seis meses e presenciou as instabilidades emocionais relacionadas à doença.

A enfermeira afirma que há três etapas psicológicas por que passa o paciente: quando se descobre a doença, o impacto; a preocupação em superar a doença e amenizar seus efeitos colaterais ao longo do tratamento; e a crise de auto-estima, que pode acontecer no pós-tratamento, quando surgem preocupações como o estigma da doença e a adaptação ao corpo diferente, como acontece ,por exemplo, após a retirada de um seio (mastectomia) no caso de câncer de mama. Um sentimento comum em grande parte dos doentes, segundo Anna, é o de perda do controle sobre a vida, desenvolvendo, muitas vezes, quadros de ansiedade e depressão.

No entanto, os centros de tratamento oncológico, na maioria das vezes, não fornecem uma assessoria que vá além do ambiente hospitalar. A pesquisa desenvolvida na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) mostra que alguns procedimentos fariam com que o paciente se sentisse menos vulnerável: a existência de um trabalho de conscientização (prevenção, em alguns casos) de efeitos colaterais, orientação sobre seus direitos quanto à aquisição de medicamentos junto ao Sistema Único de Saúde (SUS), e assessoria jurídica no caso de pessoas que, ao longo do tratamento, não tenham recursos para se sustentar. Outro ponto importante, para a enfermeira, é saber o que está acontecendo na vida do paciente: como se relaciona com a família, sua vida social e profissional antes e depois da doença.

De acordo com a pesquisadora, esse tratamento holístico não acontece em muitos lugares principalmente por falta de recursos financeiros, não por falta de vontade. Os tratamentos de câncer são, em grande maioria, custeados pelo SUS. Mas as verbas que ele fornece freqüentemente não são suficientes nem para os medicamentos, quanto mais para a criação de uma estrutura de apoio como a que é sugerida pelo estudo. Para Anna, ‘existe a necessidade de conscientização tanto da direção das instituições quanto do próprio sistema de saúde pública sobre a necessidade desta assistência holística, oferecendo tanto condições estruturais quanto recursos humanos para que o paciente se recupere física e emocionalmente da doença’.

Renata Moraes, da Agência USP