USP: Orientação alimentar é insuficiente para controlar anemia

Suplementação é mais eficaz no combate à anemia do que a orientação nutricional isolada

seg, 15/09/2003 - 20h36 | Do Portal do Governo

A orientação nutricional às mães de lactentes vem sendo uma das estratégias para controlar a anemia em crianças. No entanto, uma tese de doutorado defendida na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, indicou que apenas essa prática educativa é incapaz de controlar a deficiência de ferro, observada até os 2 anos de vida.

A pesquisadora Marizilda Martins, autora do estudo A orientação alimentar e a deficiência de ferro em lactentes, chegou a essa conclusão após analisar o sangue de 180 crianças com idades entre 6 meses e 2 dois anos, acompanhadas rotineiramente no Ambulatório de Pediatria Preventiva do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Para a pesquisa, foram selecionados lactentes que nasceram com mais de 37 semanas de gestação, não apresentando patologias graves e que tiveram peso de nascimento maior ou igual a 2 quilos. As crianças também não podiam ter tido anemia hemolítica (transtorno em que os glóbulos vermelhos são destruídos mais rapidamente do que são produzidos pela medula óssea) nem ter apresentado doenças infecciosas nos 15 dias anteriores à coleta de sangue.

Marizilda percebeu que do total das crianças, 44,6% foram diagnosticadas como anêmicas, ou seja, tinham baixa concentração de hemoglobina, e 52,8 % tinham deficiência de ferro – uma etapa anterior à anemia, constatada por exames laboratoriais como a dosagem de ferritina sérica, elemento do sangue relacionado com as reservas de ferro do organismo.

A anemia diminuiu com o aumento da idade das crianças, porém a deficiência de ferro persistiu em mais da metade delas. ‘Isso indica que a dieta continuava pobre em ferro, apesar de as famílias sistematicamente receberem orientação sobre hábitos alimentares. Como a orientação, isoladamente, não foi capaz de controlar esse déficit nutricional, a suplementação até o segundo ano de vida é necessária’, explica Marizilda.

Conseqüências da anemia

Pesquisas apontam que regiões brasileiras, como São Paulo, que é um centro urbano, chegam a ter até 70% das crianças com menos de um ano anêmicas. Quanto mais cedo acontecem os desvios nutricionais, maiores são os prejuízos para o organismo em desenvolvimento. Diminuição da capacidade física, desvios no desenvolvimento neuropsicomotor, no comportamento e na capacidade laborativa são alterações associadas à deficiência de ferro. ‘Frente à magnitude do problema, é fundamental controlar os elevados níveis da deficiência, como recomendam organismos internacionais preocupados com a saúde infantil’, comenta a professora.

A quantidade adequada de ferro no organismo do lactente pode ser atingida por meio de outras práticas além da educação nutricional, como o incentivo ao aleitamento materno, a fortificação de alimentos ou a suplementação por medicamentos. ‘A suplementação do mineral é a mais viável no momento e há a necessidade de mantê-la até os 18, 24 meses, ou seja, acima da idade atualmente recomendada, que é de 12 meses.’

Simone Harnik – Agência USP