USP: Oficinas resgatam identidade de populações indígenas

Trabalho é do Instituto de Psicologia

qui, 13/10/2005 - 10h18 | Do Portal do Governo

Para resgatar as tradições dos índios guaranis, uma equipe do Instituto de Psicologia (IP) da USP realiza oficinas de pintura, fotografia e vídeo. O trabalho, coordenado pela professora do IP, Leila Tardivo, faz parte de um programa de atendimento psicológico realizado com os moradores de duas aldeias indígenas no extremo sul da cidade de São Paulo.

Leila conta que a atuação do IP começou em 2003, na aldeia Morro da Saudade, em Parelheiros. ‘O contato foi feito pelo Instituto da Criança (ICr) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP, que faz atendimento médico no local’. A professora foi escolhida por ter feito uma tese sobre problemas psicológicos em índios aculturados no Amazonas.

‘Após reuniões com o conselho de anciãos foi realizado um curso sobre efeitos do álcool, pois há um elevado índice de alcoolismo na aldeia.’ Depois do curso, começaram a ser feitas oficinas terapêuticas de pintura e fotografia. ‘Com elas, foi possível avaliar as reais necessidades dos indígenas.’

Tania Bonfim, pós-graduanda do IP que participa do projeto, explica que ‘além do uso abusivo de álcool, a região possui poucos recursos naturais, dificultando a sobrevivência na aldeia e o contato com a metrópole compromete a identidade indígena’. Tania ressalta que ‘as oficinas ajudam a entender a formação do povo guarani.’

Aprendizado

Em 2004 começaram as oficinas de fotografia e vídeo na aldeia Krucutu, que foram muito procuradas pelos jovens. ‘Os próprios moradores faziam as fotos e as filmagens, e todo o material produzido era discutido com eles’, relata Leila. ‘As oficinas têm um objetivo pedagógico e terapêutico, onde os índios ensinam como querem ser ajudados.’

Como resultado das oficinas, foi produzido o vídeo Um Dia na Aldeia. ‘Há entrevistas com os líderes da aldeia e muitas imagens de crianças, valorizadas pela cultura guarani e da casa de reza’, diz a professora, que destaca o grande respeito à natureza pelos indígenas. ‘A produção mostra que o grupo mantém suas referências culturais, apesar da pobreza e da violência, e querem ser vistos como cidadãos, não como seres exóticos’

Segundo Leila, os índios que participaram das oficinas vão atuar como multiplicadores e realizar as atividades com outros moradores. ‘O projeto se junta a outras iniciativas de resgate e preservação do idioma e das tradições guaranis nas aldeias’, ressalta. ‘O IP conta com uma equipe de sete pessoas nas aldeias, entre alunos de graduação e pós-graduandos em Psicologia.’ O trabalho com os guaranis conta com o apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP.

Júlio Bernardes, da Agência USP