USP: Odonto avalia metodologias de investigação de marcas de mordidas em alimentos

Dentre 50 casos estudados, em apenas dois não foi possível identificar diretamente o autor da mordida

qui, 25/11/2004 - 14h11 | Do Portal do Governo

Embora pouco utilizada pela polícia brasileira, a técnica de identificação por marcas de mordidas pode ser muito eficaz na investigação de crimes. Um estudo realizado na Faculdade de Odontologia (FO) da USP avaliou e comparou quatro metodologias de identificação dessas marcas em alimentos. Em apenas 4% dos casos analisados em simulação não foi possível identificar diretamente o autor da mordida.

Segundo o dentista Jeidson Marques, autor do estudo, é preciso incorporar o método de identificação por mordidas às investigações criminais. ‘No Brasil, ainda são poucos os crimes solucionados por esse método. E a causa dessa escassez é o despreparo’, afirma. Um exemplo dessa desatenção é a falta de cuidado com a preservação da cena do crime. Manter o local intacto é essencial para a coleta de pistas, como impressões digitais, fios de cabelo e alimentos.

Marques tomou modelos de gesso dos arcos dentários de 50 estudantes da FO. Segundo ele, trata-se de uma população que não traz grandes diferenças em suas condições dentárias. ‘São pessoas que, por cuidarem bem de seus dentes, não possuem características profundas, como falta ou quebra de dentes. Isso exige um grau mais detalhado e confiável de análise’, diz.

Em seguida, por meio de sorteio e sem conhecimento do pesquisador, os voluntários morderam três tipos de alimentos – gomas de mascar, maçãs e barras de chocolate. O dentista iniciou, então, um trabalho de reconhecimento a partir desses materiais.

Resultados
Marques concluiu que, para casos de mordidas em alimentos, o método mais eficaz de identificação é a análise métrica. Por meio de um instrumento chamado paquímetro, são tiradas medidas precisas das marcas de mordida, posteriormente comparadas. Os demais métodos avaliados empregam a sobreposição de imagens. Um deles utiliza imagens digitalizadas, sobrepostas por meio de programas de computador específicos. Os outros trabalham com sobreposição manual, utilizando transparências nas quais as marcas são desenhadas ou xerocadas. Cada método foi aplicado a pelo menos um alimento de cada tipo.

A identificação direta do autor da mordida só não foi possível em dois casos, ambos de marcas impressas em maçãs. No entanto, foi possível excluir 45 suspeitos em um caso, e 46 em outro, o que Marques avalia como ‘um resultado muito positivo’. Essa exclusão, aponta o dentista, apenas foi possível com a aplicação da análise métrica.

O pesquisador ressalta que a maior eficácia de um método depende do material em que está impressa a mordida. ‘A análise métrica provavelmente não é a avaliação mais eficaz para casos de mordidas em pele’, exemplifica.

Como parte da conclusão de seu trabalho, Marques criou protocolos para identificação de marcas de mordida em alimentos. Ele listou uma série de aspectos que devem ser observados durante as análises, como a necessidade de descrição detalhada do local em que foi encontrado o alimento, o uso de registro fotográfico, a forma de coleta, moldagem e medição do material.

O dentista vê com otimismo a atual e crescente inserção de novas técnicas de perícia nas investigações nacionais. Ele cita, como exemplo, a recente abertura de concursos públicos para a contratação de peritos odonto-legais (dentistas especializados na área de criminologia).

O trabalho de Marques, Metodologias de identificação de marcas de mordidas, foi apresentado, neste semestre, no Congresso Brasil Forense 2004 e na Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Pesquisas em Odontologia (SBPQO).

Flávia Souza, Da Agência USP

M.J.