USP: Nova técnica aumenta a eficiência reprodutiva do gado

Técnica permite saber o momento exato em que ocorre a ovulação da vaca e sincronizar com a inseminação artificial

ter, 05/10/2004 - 18h02 | Do Portal do Governo

No Brasil, uma vaca dá a luz, em média, a um bezerro a cada dois anos. Com uma nova técnica desenvolvida na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP é possível aumentar esse índice para um bezerro por ano. A equipe de pesquisadores coordenada pelo professor Pietro Sampaio Baruselli criou um método que possibilita saber a hora exata em que ocorre a ovulação.

‘O Brasil é o maior exportador de carne bovina, mas se não tomar alguns cuidados corre o risco de perder sua posição no mercado’, explica Baruselli, justificando a necessidade de o setor pecuário investir em produtividade, melhoria genética e sanidade. A técnica desenvolvida na FMVZ vem de encontro a essas questões, tanto por aumentar a quantidade e a qualidade dos bezerros produzidos, como por facilitar a inseminação artificial e, conseqüentemente, a melhoria dos padrões genéticos.

O sistema atende as necessidades do nosso rebanho, formado por zebuínos (Nelore, Gir, Guzerá), raças mais resistentes e adaptáveis a climas quentes. O rebanho de países tropicais é diferente. Na Europa e nos EUA, são estudadas outras técnicas de reprodução, pois a maior parte do rebanho é de taurinos (vaca Holandesa, Simental, Limousin). ‘A fisiologia é completamente diferente e as técnicas desenvolvidas lá fora são pouco úteis para o nosso gado’, conclui Baruselli.

Atualmente, apenas 6% das vacas brasileiras são inseminadas artificialmente. Uma das dificuldades em realizar a inseminação é descobrir quando é o período do cio. ‘Pelo fato de a pecuária brasileira ser extensiva, o rebanho fica espalhado pelo pasto, disperso, sendo complicado observar todas as vacas pra saber quando é o cio’, explica Baruselli. Hoje, é preciso ter um funcionário única e exclusivamente para observar as fêmeas e descobrir o período ideal para a reprodução. ‘Por mais treinado que seja o funcionário, e esse não é o nosso caso, muitos cios são perdidos’, conta o professor.

Outro fator que influencia no ciclo reprodutivo é a alimentação à base de pasto. ‘Uma vaca bem nutrida ovula 60 dias após o parto, mas o pasto nem sempre fornece uma boa quantidade de nutrientes, varia de acordo com o clima, o solo’, descreve o pesquisador Baruselli. ‘Nessas condições, a vaca acaba ovulando de 6 a 8 meses depois de parir’.

‘Pílula invertida’

Com a nova técnica, é possível induzir a 60 dias depois do parto. O ciclo reprodutivo das vacas é de 21 dias e a gestação de nove meses e meio (285 dias). Baruselli explica que ‘se durante nove meses e meio do ano ela está em gestação, sobram 80 dias para ela voltar a emprenhar, caso contrário não será possível produzir um bezerro por ano’.

Para resolver esses problemas, a vaca é induzida a ovular por meio de um controle hormonal. ‘É bom ressaltar, que a quantidade de hormônio usada é a mesma que uma vaca produz naturalmente em condições de pecuária intensiva, bem nutrida’, conta o pesquisador. São usados progesterona, em forma de implante, e estrógeno injetável. ‘É como se fosse uma pílula ao contrário, pois o objetivo é incentivar a concepção e não impedi-la’.

A progesterona controla a produção e o crescimento do folículo e o estrógeno controla a ovulação. ‘Dessa forma nós sabemos o momento exato da ovulação, pois a induzimos, daí é só inseminar a vaca’. As taxas de prenhez (número de animais gestantes) atuais em programas de inseminação artificial variam de 20% a 40%. Com a indução, essa taxa pode chegar a 75% do rebanho. O implante é colocado na vaca e verifica-se o crescimento dos folículos nos ovários, depois, ele é retirado e se aplica o estrógeno, que faz o folículo ovular e liberar o óvulo. A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).