USP: Museu de Zoologia mostra 63 anos de história e preservação

Réplicas dos fósseis pré-históricos são a grande atração da exposição Pesquisa em Zoologia, aberta ao público desde 2002

sex, 28/05/2004 - 13h20 | Do Portal do Governo

“Quando chegaram aqui, vocês observaram a fachada do prédio?”, pergunta a monitora do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), Adriana Furtado. Diante do silêncio de uma turma de alunos da EE Neuza Marcelaro, ela orienta: ‘É só olhar para o alto e ver as figuras dos animais coloridos. No pico, fica uma águia de pedra, na saída não se esqueçam de espiar”. Ao notar a decepcão em seus rostos, diz que o objetivo do museu ao montar a exposição A Zoologia na Arquitetura foi para que os visitantes pudessem admirar de perto as figuras decorativas que há mais de 60 anos só podem ser contempladas à grande distância. Nos 24 painéis que compõem a mostra, os animais podem ser vistos em detalhes.

Em seguida, informa que os elementos coloridos revelam animais em situação natural ou como se encontram nas coleções do museu, e pede aos alunos que os identifiquem. Entusiasmados, enumeram: borboleta, caranguejo, lagosta, esquilo, peixe, tartaruga, coruja, tucano, garça, arara-azul e besouros (uma reprodução fiel e um desenho artístico). Metade das imagens compõe-se de cerâmicas vitrificadas e decorativas expostas no exterior do prédio; a outra, reproduz os 12 desenhos em alto-relevo feito em gesso (que serviram de molde às cerâmicas) expostos nas paredes do saguão principal.

Restauração

Antes de serem registrados pelo fotógrafo Wagner de Souza e Silva, os moldes de gesso passaram por restauração e foram retiradas três ou quatro camadas de tinta látex que encobriam seus detalhes, como é o caso do peixe que nem dava para notar as escamas, explica o diretor do Museu de Zoologia, Carlos Roberto Brandão. “As imagens são um registro imprescindível da preservação da memória do museu. Agora trabalhamos na identificação dos artistas. Algumas estão com assinaturas legíveis, outras não. Está em fase de elaboração projeto para transformar a coleção em calendário. Mas ainda está no papel.”

Essa mostra, juntamente com a Revelando Bastidores, do fotógrafo Ronaldo Aguiar, inaugura o espaço da Galeria de Exposições Temporárias e marca a conclusão da primeira etapa de restauro do prédio histórico. As 25 fotos de Aguiar oferecem elementos inusitados de detalhes da construção, de ambientes internos (escrivaninhas de zoólogos e atividades laborais cotidianas) e da coleção de insetos e de animais marinhos.

A nova galeria abrigará mostras com duração de três a quatro meses. As temáticas podem ser artísticas ou históricas desde que o conteúdo esteja direta ou indiretamente relacionado à zoologia. Em paralelo, o museu apresenta o Caderno de Restauro, com detalhes do recente processo de recuperação. Especialistas do Centro de Preservação Cultural da USP cuidaram da conservação do prédio e da manutenção de suas características arquitetônicas para não haver desfigurações.

Crianças se empolgam ao ver réplicas de fósseis pré-históricos

“Foi a primeira coisa legal que vi no Museu de Zoologia. Pensei que era um dinossauro”, fala empolgado Gabriel Linares, aluno da EE Neuza Marcelaro, apontando para o fóssil do saguão principal. Seu colega, Eric dos Santos, complementa: “É uma preguiça gigante que come mata e planta porque tem os dentes quase do mesmo tamanho. Acabei de saber que é um herbívoro, e não um fóssil de dinossauro como eu pensava.”

As réplicas dos fósseis pré-históricos (12 mil anos) da preguiça gigante, com quase 4 metros de altura, e do tigre dente-de-sabre são a grande atração da exposição Pesquisa em Zoologia: a biodiversidade sob o olhar do zoólogo, aberta ao público desde 2002, quando o museu reabriu suas portas, depois de ficar quase três anos fechado para reformas.

Encontrar dinossauros no saguão não está apenas na cabeça dos meninos. A idéia está nos planos da administração do museu que, em parceria com a instituição Vitae, estuda a possibilidade de substituir os atuais fósseis por três dinossauros: um, grande o suficiente para atingir o teto, e outros dois voadores suspensos.

Biodiversidade brasileira

Outra novidade que está sendo preparada para o final do ano é a abertura das escadarias para o público contemplar os belíssimos vitrais, pouco visíveis do térreo. Quando concluída a reforma, o espaço museológico ficará maior e poderá ser verticalizado. “Será mais um local para expormos temáticas complementares ao nosso acervo, aprofundar os conhecimentos e agregar outras artes”, prevê Brandão.

Considerada a maior instituição zoológica brasileira e detentora do mais bem organizado e completo acervo da fauna neotropical do planeta, reuniu de forma didática parte de sua coleção para mostrar a enorme biodiversidade e revelar ao público leigo, estudantes e pesquisadores as inquietações do zoólogo. A iniciativa deu resultado. A exposição de longa duração recebeu mais de 70 mil visitantes.

“Antes, eram direcionadas à pesquisa científica, ao ensino e à formação de pessoal. Mostravam conceitos da zoologia do século 19 e estavam mais dirigidas à catalogação. Agora, com a mudança filosófica, o espírito do museu é outro. Os estudos sobre a fauna e o olhar do zoólogo sobre a diversidade dos animais entram num contexto objetivando que o público entenda os mecanismos da biodiversidade e reflita sobre a sua importância e a necessidade da preservação”, exemplifica o diretor do museu.

Claudeci Martins
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)