USP: Molécula inibe proteína ligada a doenças neurológicas

Descobertas auxiliam na produção de fármacos e no esclarecimento do processo de diferenciação neuronal

qua, 15/06/2005 - 19h05 | Do Portal do Governo

No Laboratório de Modulação de Diferenciação Neuronal, do Instituto de Química (IQ) da USP, pesquisadores chegaram, recentemente, a duas importantes conclusões. A primeira é sobre a síntese de uma molécula capaz de inibir um receptor neuronal relacionado à ocorrência de doenças neurológicas. A segunda se refere à descoberta de que um receptor envolvido no processo inflamatório também atua na diferenciação neuronal (transformação de uma célula-tronco em neurônio).

Receptores neuronais são proteínas presentes nas células nervosas que permitem a ‘entrada’ de estímulos por meio de neurotransmissores. São elementos essenciais ao processamento cerebral de informações e sensações. Somente aprendemos algo novo, por exemplo, porque os neurotransmissores levam os estímulos aos neurônios e, em segunda análise, porque os receptores ‘abrem’ a célula e geram uma resposta a esses elementos.

Aplicação farmacológica

A doutoranda Paromita Majumder conseguiu sintetizar uma molécula capaz de inibir o efeito de um receptor (denominado P2X4) que está envolvido nos processos de memorização, aprendizagem e cognição, e possivelmente na ocorrência em epilepsia. ‘A epilepsia está relacionada, entre outras coisas, a uma hiperatividade de receptores cerebrais’, explica Cleber Augusto Trujillo, estudante de iniciação científica do Laboratório.

O professor Alexander Henning Ulrich, coordenador do Laboratório, destaca que uma das principais aplicações dessa descoberta é a produção de fármacos. Para sintetizar moléculas que cumpram funções específicas (como a inibição de um receptor), os pesquisadores utilizam uma técnica chamada Selex (Systematic Evolution of Ligands by Exponential Enrichment), que possibilita a descoberta de moléculas estáveis – que não sejam destruídas rapidamente e, assim, possam ser utilizadas em medicamentos.

Diferenciação neuronal

Uma segunda vertente de pesquisa do Laboratório é a identificação dos receptores atuantes na diferenciação neuronal. ‘Descobrindo os receptores, podemos criar moléculas que atuem sobre eles. Com um inibidor, por exemplo, é possível ‘bloquear’ o processo em determinado estágio e, assim, estudá-lo mais detalhadamente’, esclarece Trujillo.

No Laboratório, os pesquisadores utilizam células de um tipo de câncer fetal, denominadas P19. Ulrich afirma que a vantagem é que essas células se reproduzem de maneira muito mais rápida do que as células-tronco, e sem diferença significativa de resultado.

O pesquisador Antonio Henrique Martins descreve, em sua tese de doutorado, a ação da molécula Bradicinina na diferenciação neuronal. ‘A Bradicinina é conhecida por atuar no processo inflamatório e como vasodilatador. Mas nunca foi descrito que ela estava envolvida no processo de diferenciação’, afirma Martins. O pesquisador descobriu que, bloqueando o efeito da Bradicinina, há comprometimento do processo de maturação do neurônio. ‘Embora a molécula não seja a única responsável pela formação de uma célula nervosa, ela é certamente essencial nesse processo’, conclui.

Flávia Souza – Agência USP