USP: Mídia reflete mudanças na imagem feminina

Independência no lar foi substituída pela busca por padrões de beleza inatingíveis

sex, 21/05/2004 - 11h06 | Do Portal do Governo

Do Portal da USP
Por Júlio Bernardes

‘Como o padrão de beleza dos homens está voltado para a mulher artificial, eles acabam comprando os produtos que as garotas-propaganda virtuais vendem’

No último século, as mulheres passaram de um papel submisso no casamento e na família para uma presença ativa no mercado de trabalho. Mas apesar das conquistas, a liberdade deu lugar à obsessão por padrões de beleza inatingíveis. A evolução da imagem da mulher nos meios de comunicação, desde o início do século XX, é o tema da dissertação de mestrado apresentada por Maria Goretti Pedroso à Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

Por meio do estudo de filmes e anúncios publicitários, a pesquisadora identificou três momentos da presença feminina nos meios de comunicação de massa: a submissão, presente do início da industrialização até a década de 30; a independência, a partir dos anos 40; e a virtualização, que ganha força depois dos anos 70.

‘Com o surgimento da indústria cultural, o cinema começa a influenciar hábitos de consumo do público’, diz Maria Goretti. ‘A mulher, embora presa ao lar e ao marido, começa a desenvolver um ideal de independência, que se reflete principalmente nos anúncios de cigarros’.

Segundo a pesquisadora, na década de 50, ao mesmo tempo em que a publicidade enfatizava a autonomia conquistada pela mulher no mercado de trabalho por meio de anúncios de carros e outros bens de consumo, as propagandas de eletrodomésticos apontavam que ela poderia ‘voltar ao lar’ cercada de um aparato tecnológico melhor. ‘A tendência surge nos Estados Unidos, com o American Way of Life, e depois será imitada na Europa e no Brasil’, observa. ‘Com o advento da televisão e dos primeiros comerciais ao vivo, a própria mulher vendia produtos destinados ao público feminino, por intermédio das garotas-propaganda.’

Vazio

A tendência consumista se desacelera nos anos 60 com o aparecimento da contracultura e o aumento da contestação política e ideológica por estudantes militantes. ‘O mercado publicitário descobre o potencial de consumo dos jovens e passa a desenvolver peças voltadas para este público’, diz Maria Goretti. A criação da pílula anticoncepcional aumenta ainda mais a liberação feminina. ‘Com o trabalho, a mulher não precisa mais se casar para ser respeitada e, com a pílula, passa a ter controle sobre o próprio corpo’, afirma a pesquisadora.

As inovações tecnológicas surgidas a partir dos anos 70 ampliaram a independência da mulher, mas aumentaram sua carga de trabalho e tornaram seu modo de pensar mais mecânico e submetido aos apelos da comunicação de massa. ‘Para preencher o vazio, elas começam a buscar modelos de beleza virtuais, muito distantes da realidade’, relata. ‘Com produtos de beleza e cirurgias plásticas, elas tentam superar o tempo, mas acabam por se tornar artificiais, como se fossem robôs.’

Maria Goreti aponta como indício da ‘artificialização’ da imagem feminina na mídia o uso crescente de modelos virtuais (criadas por computador) na publicidade. ‘Como o padrão inconsciente de beleza dos homens está voltado para a mulher artificial, eles acabam comprando os produtos que as garotas-propaganda virtuais vendem’, explica. ‘Ao mesmo tempo, as modelos virtuais barateiam custos e não se desgastam’.

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V.C.