USP: Método não-invasivo detecta remodelamento arterial em doenças coronarianas

Exame, que utiliza a ressonância magnética, permite avaliar rapidamente obstruções eisquemia miocárdica no coração.

qua, 07/12/2005 - 10h39 | Do Portal do Governo

Um novo tipo de exame não-invasivo permite avaliar, de maneira rápida, obstruções e isquemia miocárdica no coração. Utilizando um aparelho de ressonância magnética, pesquisadores conseguiram detectar, pela primeira vez, o remodelamento vascular positivo (dilatação) de uma artéria, que representa maior instabilidade de uma lesão coronária. ‘Trata-se de um trabalho inédito no Brasil que mostrou um tipo de dilatação que não pode ser observada em exames normais, como o cateterismo’, aponta o cardiologista clínico Paulo José Bertini.

A pesquisa, que foi tema da tese de doutorado de Bertini, defendido no início de 2004, foi publicada recentemente no Brazilian Journal of Medical and Biological Research, publicação científica brasileira de circulação internacional. O estudo, já apresentado em alguns congressos no exterior, também foi veiculado no Journal of the American College of Cardiology, dos EUA, e no European Heart Jornal, da Europa, entre 2001 e 2003.

Bertini explica que os exames tradicionais, como o cateterismo, detectam apenas a luz da artéria – canal por onde circula o sangue – por contraste. ‘Não avaliam o vaso em si’, explica, lembrando outros tipos de diagnósticos como a tomografia e a angiografia. ‘Em alguns destes exames é possível se verificar obstruções nas artérias, mas não as características de suas paredes’, afirma o médico.

O método por ele desenvolvido permite que se verifique, por exemplo, a presença de ruptura da placa (hemorragia que causa a trombose). ‘Com o acúmulo de gordura, a artéria cresce em seu diâmetro externo, o que denominamos remodelamento positivo’, diz o médico. Segundo ele, este fenômeno ocorre como uma espécie de compensação do órgão. ‘Entre a parede da artéria e a luz, formam-se placas que, quando rompem, produzem um trombo que causa o entupimento do vaso, levando ao infarto do miocárdio’, explica. ‘E isso pode ser observado com mais precisão e antecedência com a utilização da ressonância magnética’, garante.

Faciltando diagnósticos

Em alguns estudos realizados em universidades norte-americanas, especialistas haviam detectado diferenças na espessura da parede das artérias entre portadores de doenças coronárias e pessoas saudáveis. Mas somente agora é que foi devidamente descrito o remodelamento que ocorre na parede da artéria. O exame poderá ainda determinar ações a serem tomadas pelo médico, já que a avaliação precisa e rápida facilitará o diagnóstico e acompanhamento (por não ser invasivo) de pacientes portadores de doenças coronarianas.

A pesquisa marca a utilização, pela primeira vez no Brasil, da ressonância magnética de coração para análise de artérias coronárias. ‘Além de o coração ser um órgão que está em constante movimento, o que dificultou o trabalho, as artérias são extremamente sinuosas. Mas, entre outras vantagens, a técnica dispensa o uso de contrastes e não apresenta os riscos de irradiação’, avalia Bertini. A ressonância magnética permite avaliar a função e a anatomia do órgão, detectando obstruções das artérias e isquemia miocárdica, com avaliações da parede das artérias coronárias.

Segundo o médico, o exame ainda está num período pré-clínico, mas já pode ser realizado no Instituto do Coração (Incor), onde Bertini atua como médico da Unidade Clínica de Arterosclerose.

Antonio Carlos Quinto

M.J.