USP: Método facilita identificar alterações de linguagem

Escala de Gesell e Amatruda, que já é utilizada por psicólogos, também é útil para fonoaudiólogos

qua, 10/11/2004 - 17h49 | Do Portal do Governo

Profissionais de Fonoaudiologia contam com um mecanismo que se revelou um bom indicador no diagnóstico de Alterações Específicas do Desenvolvimento da Linguagem (AEDL): a Escala de Desenvolvimento Comportamental de Gesell e Amatruda (EDCGA). Em estudo feito em 2002 pela professora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru da USP, Simone Hage, a escala foi considerada um instrumento útil para distinção desse tipo de alteração.

As AEDL são alterações específicas que atingem somente a linguagem, diferente de deficiências mais amplas que afetam todo o desenvolvimento da criança, como a mental e auditiva, transtornos invasivos do desenvolvimento (autismo, por exemplo), paralisia cerebral, déficit de atenção e hiperatividade, entre outros. As causas para as AEDL podem ser ambientais, ou seja, falta de estímulo dos pais, o que pode ser superado com o tempo. Quando as causas são neurobiológicas, como herança genética ou alteração sutil no desenvolvimento do cérebro, é necessária terapia fonoaudiológica.

Diagnóstico facilitado

As escalas de desenvolvimento têm o objetivo de determinar o nível evolutivo da criança. A Escala de Desenvolvimento Comportamental de Gesell e Amatruda data dos anos 60. É utilizada amplamente por psicólogos e neuropediatras, mas o estudo de Simone Hage é o primeiro que relaciona a Escala ao diagnóstico de AEDL.

Com a ajuda de colaboradores, a médica avaliou 25 crianças com AEDL entre 3 e 6 anos e 50 crianças normais da mesma faixa etária segundo critérios da EDCGA. Os cinco campos do comportamento avaliados são o comportamento adaptativo, motor grosseiro, motor delicado, comportamento de linguagem e comportamento pessoal social. As crianças com AEDL apresentaram porcentagens muito abaixo do esperado no comportamento de linguagem. Também não obtiveram bons resultados na avaliação do comportamento adaptativo e pessoal social, por envolverem habilidades de compreensão ou expressão verbal. Porém, não apresentaram dificuldade nas avaliações de comportamento motor grosseiro e delicado.

O principal critério para o diagnóstico de AEDL é a discrepância entre o desenvolvimento da linguagem e outras áreas. O diagnóstico é feito por exclusão: são feitas avaliações audiológica, neurológica e psicológica para excluir, respectivamente, deficiência auditiva, quadros neurológicos clássicos e deficiência mental. Para isso, é necessária uma equipe de profissionais. ‘A escala de desenvolvimento auxilia o profissional que não tem uma equipe para fazer o diagnóstico; ela pode indicar AEDL’, afirma.

A intervenção fonoaudiológica, nestas circunstâncias, tenta desenvolver novas conexões no cérebro da criança e apresenta maior progresso quando feita o mais cedo possível. Para isso, o diagnóstico deve ser feito precocemente. O atraso no aparecimento da linguagem oral só pode ser notado a partir dos dois anos de idade; antes disso, a ausência de linguagem é considerada normal.

Mariana Delfini – Agência USP