USP: Material alternativo barateia obra no projeto Inovarural

Capacitação de moradores, uso de rejeitos de madeira e mutirões são estratégias do projeto que visa construir casas de baixo custo

qua, 07/07/2004 - 20h29 | Do Portal do Governo

Uma iniciativa coordenada pelo Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade (HABIS) da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) viabilizará a construção de casas populares de baixo custo utilizando materiais alternativos, como rejeitos de madeira. O projeto Inovarural beneficiará 49 famílias do assentamento rural da Fazenda Pirituba, das agrovilas I e IV, no município de Itapeva, em São Paulo. Em esquema de mutirão, as famílias fabricam alguns dos materiais a serem usados e constroem as próprias residências, barateando a obra. As casas deverão estar concluídas em março de 2005.

Segundo Akemi Ino, professora da EESC e coordenadora do HABIS, o principal objetivo do Inovarural – Habitação rural com inovações no processo, gestão e produto: participação, geração de renda e sistemas construtivos com recursos locais e renováveis é analisar a implementação de inovações na produção em escala de habitação em assentamentos rurais em relação a três aspectos: processo, gestão e produto.

‘O aspecto processo implica na participação das famílias assentadas nas decisões e na capacitação de pessoas nas várias etapas da produção; quanto à gestão, o objtivo é articular os diferentes agentes envolvidos na cadeia de produção e possibilitar a geração de trabalho e renda; quanto ao produto, é desenvolver componentes e sistemas construtivos que utilizem recursos locais, preferencialmente renováveis, implementando alternativas que proporcionem redução de custos, com utilização de materiais adequados ambientalmente’, explica a professora.

No total são 49 residências, sendo 42 totalmente construídas em mutirão e 7 que ainda serão concluídas. As casas, de dois ou três dormitórios e com 65 e 75 metros quadrados, terão um custo médio de R$ 6.500,00, financiados pela Caixa Econômica Federal. ‘O grande desafio é construir uma casa de qualidade, com uma área maior que a dos programas habitacionais tradicionais e que seja do gosto do morador’, conta Akemi.

Marcenaria

As esquadrias, os forros e as coberturas serão fabricados a partir de rejeitos de madeira em uma marcenaria, instalada na agrovila IV da Fazenda Pirituba. Os componentes para as coberturas são feitos num sistema de laminação pregada de madeira de terceira (rejeito da exportação de cercas) montado junto com o forro, também de terceira. Da marcenaria, o componente vai direto para o canteiro de obras, diminuindo o resíduo e encurtando o tempo de execução. ‘As madeiras de terceira são adquiridas a um preço menor, graças às parcerias estabelecidas com as serrarias.’

O grupo da marcenaria é formado por pessoas do assentamento e faz parte da estratégia de geração de trabalho e renda na cadeia de produção de habitação utilizando recursos locais e preferencialmente renováveis. ‘Isso significa que a partir da implementação desta produção essas pessoas estarão capacitadas para oferecer serviços de marcenaria tanto para o assentamento como também para fora’, afirma.

A idéia surgiu no projeto Habitação social em madeira de reflorestamento como alternativa econômica para usos múltiplos de floresta, do Programa de Pesquisa em Políticas Públicas, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Atualmente, conta com apoio da Caixa Econômica Federal (CEF), da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP), e tem a participação da Incubadora Regional de Cooperativas Populares (INCoop)/Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq)/USP de Piracicaba, da Faculdade de Engenharia de Bauru (FEB)/Universidade Estadual Paulista (UNESP), da USINA – Centro de Trabalhos para o Ambiente Habitado, uma ONG que trabalha em assessoria para mutirões.

Valéria Dias – Agência USP