USP: Lodo de Estações de Tratamento de Água pode ser usado na produção de cerâmica

Pesquisa da Poli sugere alternativas para evitar descarte de impurezas da água nos rios

qui, 29/09/2005 - 10h45 | Do Portal do Governo

As oito principais Estações de Tratamento de Água (ETAs) da Grande São Paulo produzem cerca de 100 toneladas de lodo por dia. Este resíduo era simplesmente jogado nos rios da região metropolitana, mas pode ser disposto em aterros, lançado em sistemas de esgoto ou reaproveitado na produção de cerâmica. As opções foram pesquisadas pela engenheira Gladys Fernandes Januário em dissertação de Mestrado defendida na Escola Politécnica (Poli) da USP.

Gladys relata que o lodo se forma com a remoção das impurezas da água nas ETAs. ‘Ele é composto, basicamente, de areia, silte, argila, precipitados de ferro e alumínio usados no tratamento e matéria orgânica’, explica. ‘Este material era jogado nos rios da Grande São Paulo, mas a legislação ambiental passou a exigir outras formas de destinação para evitar problemas ecológicos e o assoreamento dos leitos d’água.’

De acordo com a pesquisadora, uma solução viável na região metropolitana é a deposição do lodo em aterros. ‘O método exige a desidratação do material por adensamento (flotação ou gravidade) ou sistemas mecânicos (filtro prensa ou centrífuga)’, conta. ‘Os resíduos também podem ser enviados para Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs), o que dispensa a retirada da parte líquida.’

Cerâmica

A opção pelos aterros é mais comum porque a técnica é bastante conhecida no Brasil, aponta Gladys. ‘No exterior, há alguns relatos sobre o uso do lodo em agricultura, o que é mais difícil no caso da Grande São Paulo, pois os resíduos têm pouca matéria orgânica (nutrientes para as plantas) e sua composição é variável’, ressalta. ‘No Japão, parte do material é incinerado, com controle da temperatura e emissões de gases, mas a técnica tem custos muito elevados.’

Segundo a engenheira, o aproveitamento dos lodos em cerâmica é pesquisado por empresas de saneamento básico e universidades em São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. ‘Misturado com argila, o resíduo desidratado pode ser empregado em telhas e tijolos sem função estrutural’, sugere. ‘No Brasil, as empresas têm feito testes físicos e químicos nas peças produzidas e, experiências na UNICAMP, não detectaram riscos ambientais no manuseio do material.’

Apesar das pesquisas, os resíduos das ETAs da Grande São Paulo não são empregados na produção de material cerâmico. ‘As Estações que não possuem sistemas de desidratação dos resíduos planejam sua implantação para viabilizar seu envio aos aterros’, observa Gladys. ‘Porém, o problema dos lodos pode ser resolvido de várias formas, e não apenas com a adoção de uma única técnica’.

Júlio Bernardes, Da Agência USP

M.J.