USP: Líquido do globo ocular indica dosagem alcoólica

Estudo do Cemel compara dosagem de álcool em diferentes amostras biológicas

ter, 17/08/2004 - 20h22 | Do Portal do Governo

Uma pesquisa sobre a dosagem de álcool em diferentes amostras biológicas coletadas de indivíduos que tiveram morte violenta e morte natural proporcionou ao professor Bruno Spinosa De Martinis, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), a oportunidade de participar do Congresso Internacional de Toxicologia Forense, em Washington, EUA.

O professor recebeu uma das 15 bolsas oferecidas em todo o mundo, que incluem viagem, hospedagem e custos com o congresso. Durante o evento, que acontece neste mês de agosto, De Martinis será premiado pelo National Institute on Drugs Abuse (NIDA) e participará de um curso teórico e prático sobre toxicologia forense nos laboratórios do FBI.

Para inscrever-se para a bolsa, o professor enviou seu trabalho de dosagem de álcool em diferentes amostras biológicas: sangue (central e periférico), urina e humor vítreo. Ele explica que, em casos de acidentes, por exemplo, quando há perda total de sangue ou de corpos já deteriorados pela decomposição, a análise da presença de drogas fica comprometida.

Humor vítreo

‘Uma das melhores alternativas é a utilização de humor vítreo, líquido que preenche o globo ocular, uma câmara fechada livre de contaminação’, conta. ‘No entanto, existem poucos estudos sobre as correlações entre as dosagens no sangue e outras amostras, como, por exemplo, no humor vítreo. Este é o nosso trabalho’, diz.

De Martinis explica que desde 2001 realiza análises comparativas da dosagem de álcool em diferentes partes do corpo. ‘Havia alguns estudos muito específicos que limitavam o uso dos resultados. Neste trabalho comparamos amostras de sangue da veia femural (sangue periférico), da subclávia, do coração, com amostras de urina e de humor vítreo’. De acordo com o professor, as correlações encontradas são especialmente importantes quando se trata de corpos encontrados já em decomposição.

A amostra sanguínea pode dar resultado equivocado, pois as bactérias que consomem a glicose das células também produzem álcool, que pode ser detectado posteriormente. ‘No humor vítreo, por estar em uma câmara fechada e menos suscetível à contaminação por bactérias, isso não ocorre’, explica. ‘O álcool é hidrossolúvel e se acumula também no humor vítreo.’

Cemel

Conclusões inéditas derivaram dos estudos desenvolvidos pelo professor De Martinis na coordenação do Laboratório de Toxicologia, montado no Centro de Medicina Legal (Cemel) da FMRP. Desde 2001, foi analisada a presença ou não de álcool em 80% dos casos atendidos no Cemel, de vítimas de morte violenta ou por causa não conhecida, de pessoas entre 10 e 70 anos. Até maio de 2004 foram cerca de três mil casos.

De cada dez homicídios, foi confirmada em quatro a presença de álcool nas amostras da vítima. Curiosamente, uma em cada dez pessoas, (11%) que morreram sem assistência médica ou de causa não esclarecida também apresentava álcool na circulação.

‘Normalmente se faz a dosagem de álcool em vítimas de morte violenta, em especial nos acidentes de trânsito. Nós ampliamos para todos os casos de morte violenta e ainda de mortes sem causa definida. Considerando os trabalhos publicados sobre o assunto, não existe ainda uma conclusão definitiva quanto à comparação dos níveis de álcool em diferentes amostras coletadas após a morte e esta pode ser uma porta para outros estudos relevantes’, acredita De Martinis.

Da Redação, Agência USP — Fonte: Assessoria de Imprensa da FMRP