USP: Lactobacilos preservam flora intestinal de crianças tratadas com antibióticos

Pesquisa abrangeu 63 crianças que estavam internadas no Hospital Universítário

sex, 19/11/2004 - 14h03 | Do Portal do Governo

Por meio da ingestão de leite fermentado com lactobacilos vivos – alimento facilmente encontrado em qualquer supermercado -, pesquisadores da USP conseguiram manter a concentração de bactérias na flora intestinal de crianças submetidas a tratamento médico com antibióticos.

Utilizado no combate a infecções, os antibióticos também atingem os microrganismos da flora intestinal, importantes para o equilíbrio das funções imunológicas e digestivas do corpo humano. O desequilíbrio no número de bactérias no intestino pode provocar uma série de problemas ao organismo e agravar o quadro clínico do paciente.

A pesquisa, realizada pelos professores Alfredo Elias Gilio, do Hospital Universitário (HU), e Elsa Mamizuki, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), abrangeu 63 crianças de dois a 15 anos que estavam internadas no HU, tratando suas infecções com antibióticos. O quadro mais comum era o de pneumonia. Trinta crianças receberam, como complemento alimentar, cerca de 240 ml de leite com lactobacilos vivos casei shirota, duas vezes ao dia. O restante recebeu leite sem o lactobacilo.

As fezes das crianças foram coletadas regularmente, antes, durante e depois do período de tratamento e ingestão dos lactobacilos vivos. Elsa avaliou o material e mediu a concentração de bactérias: ‘as crianças que receberam o alimento com lactobacilos vivos mantiveram a flora intestinal estável, semelhante a que possuíam antes de iniciar o tratamento’, explica. Em contrapartida, o número de microrganismos do intestino dos pacientes que não receberam o suplemento foi reduzido, o que abriu espaço para a entrada de patógenos, como os do gênero Pseudomonas e Clostidium.

Microrganismos úteis
Elsa define os microrganismos da flora intestinal como bactérias resistentes à acidez do estômago e que não possuem fator de virulência (capacidade de provocar doenças) ao homem. Mais de 400 espécies de bactérias estão presentes no intestino. Elas auxiliam no sistema imunológico (80% dos anticorpos são formados no intestino a partir desses seres vivos), sintetizam vitaminas, ajudam na digestão dos alimentos e impedem a entrada de microrganismos nocivos à saúde.

Além disso, as bactérias da flora intestinal desempenham papel essencial na absorção de alguns nutrientes. ‘A redução desses microrganismos pode provocar sérios problemas ao organismo’, esclarece o professor Gilio. Elsa aponta a septicemia (infecção no sangue) como uma das doenças mais graves causadas pela translocação das bactérias do intestino, quando há grande alteração da flora intestinal. ‘Nossa pesquisa apontou resultados positivos relacionados à ação do casei shirota na flora intestinal, mas estudos no Canadá e no Japão estão descobrindo utilidades efetivas dos lactobacilos vivos em vaginoses (doenças ginecológicas) e em respostas imunes ao câncer’, complementa.

Tadeu Breda, Da Agência USP

M.J.