USP: Ipen estuda alternativas naturais para tratar efluentes

Bagaço de cana e palha têm se mostrado eficazes no tratamento de efluentes industriais

sex, 03/09/2004 - 21h07 | Do Portal do Governo

Palha de coco verde, bagaço de cana-de-açúcar e derivados de exoesqueleto de crustáceos (quitosana) têm demonstrado grande eficácia para tratar efluentes industriais e radioativos. Estudos desenvolvidos pela pesquisadora Mitiko Yamaura, no Centro de Química e Meio Ambiente, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nuclares (Ipen), mostraram que esses materiais são alternativas de baixo custo para o tratamento de resíduos como o urânio, o tório e o cromo.

‘Esses elementos degradam o ambiente, são cancerígenos, difíceis de serem descartados e, no caso do urânio e do tório, altamente tóxicos e radioativos’, alerta a pesquisadora. Segundo Mitiko, a biomassa demonstrou ser uma boa opção para tratar esses resíduos.

Palhas adsorventes

Os estudos que viabilizam a utilização da palha de coco verde como adsorvente (que absorve e retém substâncias) começaram a partir de um projeto de iniciação científica da aluna Raquel de Almeida Monteiro, das Faculdades Oswaldo Cruz e bolsista do CNPq. Raquel e Mitiko obtiveram a fibra do mesocarpo (camada fibrosa do coco verde), depois de picar o fruto. Em seguida, o coco foi lavado por três vezes e seco à temperatura ambiente.

‘A fibra de coco apresentou vantagens em relação a outros métodos de separação, como a resina de troca iônica, material industrializado e mais caro’, conta Mitiko. Mas, por enquanto, os estudos são feitos apenas ao nível acadêmico e outras pesquisas serão necessárias até que a fibra de coco verde possa ser usada pelas indústrias como um adsorvente.

Os estudos com a palha de coco verde estão sendo feitos principalmente para o tratamento do tório. De acordo com Mitiko, trata-se de um elemento radioativo usado na fabricação de eletrodos para lâmpadas de descarga, em liga com tungstênio ou com níquel. ‘Durante anos o Ipen processou a purificação do nitrato de tório o que gerou efluentes contendo resíduos do elemento radioativo.

O trabalho que utiliza a palha de coco verde como adsorvente foi premiado durante o Congresso Nacional de Iniciação Científica, em novembro de 2003, em São Paulo. No Centro de Química e Meio Ambiente do Ipen também estão sendo realizados estudos que usam o bagaço de cana-de-açúcar para reter compostos orgânicos.

Ambas as pesquisas já geraram patentes e o estudo com a fibra da palha de coco verde será apresentado durante o Congresso de Resíduos Industriais que acontece entre os dias 17 e 20 de outubro, em Florianópolis, Santa Catarina.

Quitosana

A quitosana, produto obtido a partir do exoesqueleto de crustáceos e usado na produção de cosméticos, drogas e medicamentos, é outro material pesquisado por Mitiko. Os estudos envolvem esferas magnéticas de quitosana obtidas a partir da técnica de emulsão contendo as nanopartículas magnéticas. O processo consiste na dissolução da quitosana em hidróxido de sódio, transformando-a em flocos. Em seguida, é inserido material magnético (nanopartículas), obtendo-se as esferas de quitosana.

Elas são colocadas em meio aquoso contendo um resíduo químico (óleo queimado, por exemplo). Um campo magnético atrai as esferas de quitosana carregadas com o efluente. Posteriormente, o efluente poderá ser descartado possibilitando a reutilização das esferas. ‘Uma outra vantagem da técnica é que ela pode ser empregada no tratamento de resíduos não-magnéticos’, explica Mitiko.

Segundo Mitiko, o método combina as técnicas de separação química e magnética e é muito eficiente para poluentes em baixas concentrações. ‘É uma tecnologia de baixo custo, de simples operação e sem geração de efluentes secundários.’

Valéria Dias – Agência USP