USP: Instituto Oceanográfico coordena projeto multinacional no Atlântico Sul

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sex, 30/01/2004 - 18h19 | Do Portal do Governo

O navio oceanográfico Antares, da Marinha brasileira, parte neste domingo, dia 1º, do porto de Mar del Plata, (Argentina), para uma expedição científica com pesquisadores brasileiros, argentinos, uruguaios e norte-americanos. O cruzeiro, que faz parte de um programa inédito, que termina no próximo dia 22, no Rio de Janeiro, investiga as influências das águas do Rio da Prata sobre o sudoeste do Oceano Atlântico.

A operação científica levantará dados precisos sobre aspectos oceanográficos e sobre o microclima da região, revelando informações capazes inclusive de evitar catástrofes ambientais e econômicas. Participam pesquisadores de dez institutos e universidades nacionais e estrangeiros.

A expedição é a segunda realizada no projeto LAPLATA – o navio argentino Puerto Deseado pesquisou a área entre Mar del Plata e Itajaí (PR) no final do último mês de agosto. Como aconteceu naquela ocasião, um levantamento aéreo das condições sobre a superfície do mar será realizado com o uso de radiômetro de última geração, instalado em aeronave da Força Aérea do Uruguai.

O projeto LAPLATA integra o programa SACC (South Atlantic Climate Change), coordenado pelo Instituto Oceanográfico da USP (IOUSP). Este programa de pesquisa multidisciplinar e multinacional avalia o papel do Atlântico Sul em processos relacionados a mudanças globais no continente.

Segundo o coordenador do programa, Edmo Campos (IO/USP), a complexidade e a amplitude da pesquisa é um acontecimento inédito. ‘Estudos oceanográficos em regiões envolvendo águas territoriais de diferentes países requerem um alto grau de cooperação das diversas partes envolvidas em um grau muito além do que a simples colaboração científica’, explica.

Participam do SACC, além do IOUSP, as seguintes instituições: INPE e Fundação Universidade do Rio Grande, do Brasil; Universidad de La República, do Uruguai; Servício de Hidrografia Naval e Universidad de Buenos Aires, da Argentina; e o Naval Research Laboratory, dos EUA.

Prevendo impactos climáticos

Além de procurar entender o efeito das descargas fluviais e da frente subtropical da plataforma do Rio da Prata, as campanhas devem verificar as conseqüências da distribuição e o encontro das massas d’água dos três países nas atividades pesqueiras e no microclima da região. ‘Dependendo de como estas massas d’água se encontram e se distribuem elas podem provocar impactos catastróficos nas atividades econômicas e também nas mudanças climáticas’, explica Campos.

No inverno, as águas influenciadas pelo Prata se estendem por mais de mil quilômetros, chegando as vezes até Cabo Frio (RJ). As variações da influência do Prata nessa área têm um relevante impacto nas correntes e características químicas e biológicas, determinando a distribuição de espécies de interesse comercial pela costa.

Outra influência que o rio da Prata exerce na plataforma, segundo Campos, é sobre o clima. ‘A baixa salinidade das águas do rio faz com que elas permaneçam sobre a superfície do oceano, apesar da perda de calor para a atmosfera. Isso resulta em uma ‘capa’ superficial de águas de baixa temperatura, o que pode inibir a formação de nuvens.’

O Antares realizará cerca de 90 estações oceanográficas cobrindo a plataforma continental entre Mar del Plata e Itajaí (SC). Em cada estação será determinada a temperatura, salinidade, oxigênio dissolvido e nutrientes. Os pesquisadores colherão amostras de plâncton e sedimentos e realizarão medições radiométricas para calibração de sensores de satélites.

Mais informações, (0xx11) 3091-6597 (Edmo Campos), ou pelo e-mail edmo@io.usp.br

Fábio de Castro
Da Agência USP de Notícias