USP: Instituto de Química testa aços usados em próteses

Resultados apontam que as ligas têm obtido cada vez mais estabilidade eletroquímica

ter, 01/06/2004 - 19h57 | Do Portal do Governo

Uma pesquisa do Instituto de Química (IQ) da USP avaliou o comportamento eletroquímico de diversos tipos de aços inoxidáveis, usados em implantes ortopédicos. Os resultados indicam que as ligas têm obtido cada vez mais estabilidade, o que as deixa mais apropriadas para este tipo de utilização
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‘Os primeiros aços empregados em próteses ortopédicas internas eram instáveis e reagiam com os fluidos do corpo, liberando substâncias tóxicas’, explica a química Ruth Villamil. ‘Nosso estudo confirmou que as ligas mais recentes resistem melhor à corrosão por pite, um tipo de desgaste localizado que se dá a partir do rompimento do filme de óxido que protege a superfície do aço. Agora estamos estudando os elementos responsáveis pela estabilidade, para desenvolvermos materiais ainda melhores’.

Em seu pós-doutorado, a pesquisadora mediu a oxidação sofrida por amostras de aços imersas em uma solução ácida, que simula as condições eletroquímicas de uma infecção no corpo humano. O primeiro tipo avaliado, denominado ‘316L’ (ou ASTM A276-00), teve a mais alta reatividade. Seu uso médico, no entanto, já foi praticamente abandonado em todo o mundo. O aço ‘F138’, que é o mais utilizado nos implantes ortopédicos no Brasil, teve desempenho regular. Já o ‘5832-9’, ainda não regularizado para este fim no País, apresentou estabilidade química superior.

Segundo Sílvia Maria Leite Agostinho, coordenadora do Laboratório de Eletroquímica, onde Ruth realizou as pesquisas, o aço ‘5832-9’ – categoria definida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – foi desenvolvido na Europa e já é produzido no Brasil, porém ainda não está sendo usado como prótese. ‘É preciso que a legislação se adapte com mais agilidade aos avanços científicos, assim como é necessário que os médicos se conscientizem dos problemas da corrosão e se atualizem para recomendarem materiais menos danosos para os usuários’.

Sílvia Maria considera os resultados ainda insuficientes para que um tipo de aço seja considerado definitivamente superior aos outros, na confecção de próteses. Para ela, a simulação de condições no laboratório, o uso de ensaios acelerados de corrosão e a avaliação de apenas um tipo de desgaste debilitam as conclusões.

Anti-alérgicos

A pesquisa também avaliou a relação entre a estabilidade do ‘5832-9’ com a presença de nióbio em sua composição, modificando a percentagem deste metal na liga. Os resultados, no entanto, apontaram variação insignificante.

Agora os pesquisadores buscam desenvolver ligas de aços sem níquel, visando diminuir as reações alérgicas que ocorrem nos implantes, atribuídas a esse metal. Os trabalhos são feitos em parceria com a empresa Villares Metals e com o Hospital Santa Casa de Misericórdia.

Mais informações: (11) 3091-2157

Lucas Telles – Agência USP