USP: Instituto de Psiquiatria do HC testa novo tratamento para a depressão

Estima-se que 17% dos adultos sofrem ou já sofreram da doença

seg, 10/10/2005 - 12h16 | Do Portal do Governo

Estima-se que 17% dos adultos sofrem ou já sofreram de depressão. Por ser facilmente confundido com um eventual estado de mau-humor ou um desânimo natural, o problema não é prontamente detectado. De fato, há uma diferença entre ser depressivo e estar depressivo. Mas a depressão é considerada uma doença, e como tal, exige um tratamento específico.

Um grupo do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas de São Paulo pesquisa desde 2000 novos tratamentos para doença que utilizam a estimulação magnética transcraniana como metodologia. Convencionalmente são receitados medicamentos específicos para depressão e nos casos mais graves é empregada a eletroconvulsoterapia (ECT) – cuja atuação se dá por meio de choques elétricos. Mas as novas formas de tratamentos propostas não têm nada a ver com choques elétricos.

A estimulação magnética transcraniana atua no cérebro do paciente através da liberação de uma grande quantidade de energia. Por vinte minutos, ele é submetido a uma tensão de cerca de 4 mil volts e um intensidade de 5 mil ampères, liberados em 0,2 milissegundos – o que constitui um campo magnético semelhante ao de um aparelho de ressonância magnética, entre 1,5 e 2,0 tesla. Mas esses dados podem variar de acordo com as particularidades de cada paciente.

O Dr. Marco Antonio Marcolin, responsável pelas pesquisas, explica que os estímulos atravessam o escalpo e o osso do crânio, atingido o cérebro sem causar dor ao paciente. No cérebro, a alternância desse campo magnético (ligado e desligado por várias vezes) gera uma corrente elétrica paralela à corrente elétrica primária, mas em sentido contrário. A região estimulada é chamada “córtex dorso-lateral pré-frontal esquerdo” – estudos de imagem verificaram hipoatividade nesta parte do cérebro em pacientes de depressão.

Marcolin ressalta que a estimulação magnética transcraniana praticamente não apresenta efeitos colaterais. “Alguns pacientes se queixam de uma leve dor de cabeça após a sessão. Outros efeitos são muito brandos e transitórios”.

Sessões de tratamento duram 20 minutos

O novo processo pode ser usado tanto como opção para pacientes refratários ao medicamento, como para redução do tempo de tratamento da doença. Marcolin diz que os antidepressivos podem levar até 8 semanas para começar a surtir efeito no paciente, mas salienta que a estimulação magnética transcraniana acelera esse processo e reduz o tempo de tratamento. Marcolin acrescenta que o grupo do IPq é pioneiro a nível mundial no estudo da aceleração do efeito de antidepressivos. Em janeiro deste ano, um artigo deste estudo foi publicado pela revista Biological Psichiatry.

Atualmente estão sendo realizados testes de eficácia da estimulação magnética transcraniana em ambiente exclusivo de pesquisa. De acordo com o Marcolin, muitos anos ainda separam este novo tratamento de sua aplicação clínica, mas alguns esforços já podem ser feitos nesse sentido. “Talvez esteja chegando a hora de sugerir a aprovação do uso clínico da estimulação magnética, ou seja, seu uso fora de ambiente de pesquisa. Devemos fazer isso tanto a nível de USP como a nível de Anvisa e Ministério da Saúde, pois utilizar um método como este sem a aprovação do Ministério ou de um corpo como o da USP, na minha maneira de ver, não é uma coisa adequada”, afirma.

A estimulação magnética transcraniana já é aplicada clinicamente no Canadá, Alemanha, México e Austrália. Nos Estados Unidos seu uso é feito por responsabilidade do médico; no Brasil ainda não existe aprovação legal para o método.

A solução em casa

Há cerca de um ano e meio está sendo pesquisada também a viabilidade da estimulação cerebral por corrente contínua de baixa intensidade. A tecnologia foi trazida da Alemanha e o aparelho, desenvolvido aqui no Brasil pelo neuropsicólgo Paulo Boggio (Hospital das Clínicas), pelo neurologista Felipe Fregni (atualmente em Harvard), ambos integrantes do Grupo de Estimulação Não-Invasiva do IPq da Faculdade de Medicina da USP, e pelo engenheiro Sérgio Américo Boggio.

Utilizado no tratamento de depressões leves ou moderadas, ele é pequeno, de fácil manuseio e baixo custo. De acordo com Marcolin, pretende-se futuramente permitir o uso do aparelho ao paciente, de forma que este possa realizar o tratamento em casa.

As pesquisas são realizadas no setor de Eletroconvulsoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, cujo responsável é o Dr. Sérgio Paulo Rigonatti. O telefone do setor é o (11) 3069-6525. O IPq fica na Rua Ovídio Pires de Campo, 785 – São Paulo.

Daniel Milazzo, da USP Online

M.J.