USP: Incubadora Tecnológica incentiva trabalho em cooperativa

Incubadora é auto-gestora e oferece suporte a trabalhadores informais, desempregados e excluídos

ter, 07/10/2003 - 12h00 | Do Portal do Governo

Há oito meses Leoníria Ribeiro Duarte de Farias uniu-se a outras dez pessoas para montar uma lanchonete na Rua do Lago, 876 – prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP). O que difere o cotidiano desses trabalhadores do de qualquer outro estabelecimento é a gestão. Eles foram orientados pelo pessoal da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) da USP e criaram a Cooperativa Monte Sinai Lanches.

A história de Leoníria com a casa de lanches é antiga. De 1994 a fevereiro deste ano, trabalhou como caixa numa lanchonete. ‘A ex-dona decidiu fechar o restaurante e levar tudo o que tinha.’ Ela, quatro funcionários e outros seis colegas organizaram-se e, com o auxílio da ITCP, montaram a cooperativa: ‘Compramos tudo o que tem aqui, desde geladeira, fogão até pratos e outros utensílios.’ Na cooperativa as funções são divididas, mas todos fazem de tudo, de acordo com as necessidades da lanchonete e habilidades de cada um. Diferentemente da gestão anterior, os cooperados acatam as sugestões dos estudantes e vendem produtos como sorvetes e salgados diferenciados. ‘Com a variedade, nosso movimento aumentou’, conta Leoníria.

Mais liberdade

Antes, cozinheiro, balconista e outras funções tinham salários variados. Agora, informa Leoníria, ‘pagamos as contas e o que sobra, dividimos em partes iguais’. Cleonice da Silva Messias Lima, há três anos na instituição como balconista, relata que recebia salário fixo de R$ 390,00 por mês. Tudo mudou. Em junho, recebeu R$ 700,00, um mês depois, R$ 500,00.

A touca e o avental que os empregados usavam antes foram substituídos por uniforme, que eles mesmos escolheram. Além disso, deixam um livro de sugestões à disposição dos clientes. Cleonice, mãe de três filhos, disse que o que une a equipe é a confiança: ‘Antes, sadia ou doente tinha de trabalhar. Hoje, tenho liberdade de ir ao médico, sem desconto em meu ordenado. Quando tinha patrão, só ele lucrava’.

Venda garantida

Outro caso exemplar é o da CooperRemo, cooperativa de panificação existente desde novembro de 2002, em frente à antiga Faculdade de Veterinária da USP (Avenida Professor Lúcio Martins Rodrigues, 403 – travessa 4, bloco 4). Seus criadores são nove trabalhadores que estavam desempregados, quando procuraram a ITCP. ‘O pessoal da incubadora nos ensinou o que é cooperativa, contabilidade, e como podíamos nos organizar para montar um negócio’, explica Paulo Roberto Firmino de Oliveira, 17 anos, que mora no Jardim João XXIII, próximo à Rodovia Raposo Tavares.

Eles produzem pães de cenoura, alho, mandioca, batata, coxinha e doces como cocada e broa e oferecem aos alunos, nos corredores das escolas da USP. ‘No começo a gente não vendia muito porque a procura era pequena. Dava para tirar uns R$ 50,00, R$ 70,00 por dia,’ constata Patrícia Carvalho da Silva, 19 anos. Há um mês, a equipe recebe encomendas do Centro Acadêmico da Faculdade de Educação. Agora, produz mais pães e a saída é garantida. ‘Ainda temos muitas dificuldades, como a falta de estufadeira e de um forno melhor’, lamenta Oliveira, que pretende fazer curso de confeitaria.

ITCP oferece suporte aos trabalhadores informais

O arquiteto Guilherme Vieira dos Santos e a psicóloga Juliana Braz são coordenadores gerais da ITCP-USP, programa da Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e de Atividades Especiais (Cecae). A incubadora é auto-gestora, existe há cinco anos e oferece suporte a trabalhadores informais, desempregados e excluídos.

Com o apoio de dois professores de psicologia, 65 alunos de Humanas, Exatas e Biológicas da USP e de outras instituições desenvolvem o projeto, que é uma atividade de extensão universitária.

Durante as reuniões, o pessoal da incubadora pergunta aos grupos qual atividade econômica pretendem formar, verifica se há ou não viabilidade econômica e se existem vínculos de confiança entre os membros da futura cooperativa. Ao contrário de outras incubadoras, a ITCP não trabalha por etapas. Não há cursos com temas específicos e o acompanhamento é contínuo. ‘Nossa atuação acaba quando o grupo não quer mais a ajuda’, afirma Juliana. O objetivo é que os cooperados conquistem autonomia durante os encontros, que abordam cooperativismo, mercado, legislação, sistemas de crédito e outras questões.

A incubadora apóia 27 grupos no Estado de São Paulo em áreas como jardinagem, limpeza, construção civil, artesanato e restaurante. Há projetos em desenvolvimento com auxílio de prefeituras. A ITCP, vinculada à rede universitária de incubadoras, está presente em 15 universidades do País.

SERVIÇO
ITCP-SP fica na Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 403 (Travessa 4, bloco 4)
Cidade Universitária – São Paulo – SP
Telefone: (11) 3091-5828

Viviane Gomes
Da Agência Imprensa Oficial

(AM)