USP: Incor realiza pesquisas de ponta na área de doenças cardiovasculares

Instituto desenvolve pesquisas com transplante de células-tronco para o tratamento da insuficiência cardíaca

sex, 26/11/2004 - 19h46 | Do Portal do Governo

O Instituto do Coração (Incor), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP), é um dos centros mais avançados do mundo na área de doenças cardiovasculares. Atualmente, o instituto vem desenvolvendo pesquisas com transplante de células-tronco para o tratamento da insuficiência cardíaca, mal que atinge cerca de 4% da população brasileira. Selecionado pelo Ministério da Saúde como centro-âncora para estudar tratamentos em pacientes portadores de doença isquêmica crônica do coração, o Incor já realiza pesquisas experimentais e clínicas, inéditas e totalmente nacionais, que auxiliarão no avanço do estudo proposto pelo governo.

Algumas das pesquisas já se encontram na segunda fase de testes em seres humanos, que é aquela em que a eficácia das intervenções é analisada. Um dos projetos, coordenado pelo professor Sérgio Almeida de Oliveira, diretor da divisão cirúrgica do Incor, se utiliza simultaneamente de duas técnicas: a revascularização do miocárdio, por meio das chamadas ‘pontes’ (safena e mamária), associada ao transplante de células-tronco autólogas (quando as células são da mesma pessoa que as receberá).

No protocolo proposto, todos os pacientes serão submetidos a cirurgia de revascularização para implante das pontes. As células-tronco serão injetadas diretamente no músculo cardíaco, em uma região do coração onde não é possível implantar a ponte por razões técnicas.

Na primeira fase deste estudo dez pacientes foram submetidos ao implante celular para avaliação da segurança do procedimento. ‘Os resultados iniciais mostraram que não há risco para os pacientes e nos estimulam para a segunda fase da pesquisa, na qual vamos estudar de forma sistemática os benefícios do procedimento num número maior de pacientes’, diz José Eduardo Krieger, diretor do Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do Incor e vice-coordenador do projeto na instituição.

Segunda fase

Krieger conta que a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) inicialmente autorizou que o Incor estudasse a eficácia do método em 60 pacientes submetidos a revascularização. Destes, 40 estão recebendo as células-tronco, e os restantes apenas uma solução placebo. Segundo Krieger, esta técnica tem o potencial de ser utilizada no tratamento de diversas modalidades de insuficiência cardíaca, incluindo a doença isquêmica crônica do coração.

Uma outra técnica de reparação cardíaca biológica que vem sendo pesquisada no Incor consiste na utilização, novamente combinada, de revascularização por laser e transplante de células-tronco. ‘Estamos cautelosamente otimistas com os resultados preliminares desta outra modalidade, que envolve pacientes mais graves e com opções limitadas de tratamento’, afirma Krieger.

Além do Incor, participam da iniciativa do Ministério da Saúde o Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras, que será o centro coordenador-geral e o âncora para cardiopatia dilatada, e o Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, que ficará responsável pela pesquisa em pacientes que sofreram infarto agudo do miocárdio. O quarto grupo, de cardiopatia chagástica, ainda não teve seu centro-âncora definido, mas a escolha deverá acontecer em breve.

Investimentos

O investimento nas pesquisas está estimado em R$ 13,5 milhões, a serem liberados em três anos. A expectativa é que até o fim de 2004 cada um dos grupos receba R$ 1,6 milhão. ‘A idéia é utilizar parte desta verba no desenvolvimento de pesquisas pré-clínicas, em melhorias de estrutura e para agilizar os ensaios que já começaram no Incor’, explica Krieger.

No total, devem ser atendidos cerca de 1.200 pacientes (300 em cada grupo). O Incor deve tratar da maioria dos casos de doença isquêmica crônica do coração e de uma parte de cada uma das outras modalidades, em associação com os demais centros-âncoras sob a coordenação do Prof. José Antônio Ramires, Diretor Geral do Incor. ‘Nós esperamos tratar pelo menos 40 pacientes de cada um dos outros grupos’. Cerca de 12 instituições devem tomar parte na iniciativa, que inclui desde hospitais a centros acadêmicos espalhados pelo Brasil.

André Benevides – Agência USP / Com informações da Assessoria de Imprensa do Incor