USP: Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto cria nova técnica para cirurgia cardíaca em bebês

Cardiopatia pode ser corrigida por cirurgia menos invasiva e que não deixa grande cicatriz

sáb, 22/05/2004 - 13h33 | Do Portal do Governo

O Serviço de Cardiologia Pediátrica do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (FMRP) criou uma nova técnica cirúrgica para crianças recém-nascidas prematuras com Persistência do Canal Arterial, cardiopatia congênita que provoca o lançamento de sangue ao pulmão, com riscos de infecção pulmonar e de prejuízo ao desenvolvimento do bebê. A técnica foi desenvolvida pela equipe do professor Walter Villela de Andrade Vicente e permite o acesso ao canal arterial pelas costas do bebê, com uma incisão de no máximo dois centímetros.

Nas técnicas tradicionais, a incisão é feita do lado do peito da criança recém-nascida e a cicatriz cirúrgica de acesso ao coração enfermo pode deformar a mama definitivamente no futuro, uma seqüela importante caso a criança seja do sexo feminino.

Por este novo método, o afastamento dos órgãos para localizar o canal arterial é feito com cotonetes. Com o uso de clip metálico, o canal é definitivamente fechado. A operação, às vezes, pode ser concluída em menos de dez minutos. ‘Trata-se de uma operação simples, mas muito delicada e de grande relevância para os cardiopatas que a necessitam. Nós aqui a chamamos, carinhosamente, de operação do cotonete’, diz o professor.

Pelo acesso dorsal, a distância entre a incisão na pele e o canal arterial é menor e a operação fica facilitada, tornando-se menos invasiva. Já foram operadas 106 crianças, com sucesso.

Reconhecimento

O Serviço de Cardiologia Pediátrica do HC da FMRP foi reconhecido pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) como centro de referência no interior. Só no ano passado, 182 crianças foram operadas, mais da metade delas recém-nascidas.

Segundo a Socesp, só no estado de São Paulo nascem todos os anos mais de 5.000 crianças com cardiopatias congênitas. A entidade decidiu investir e apoiar a capacitação de profissionais para atendê-las também fora da capital, onde já há excesso de demanda nos serviços especializados.

Dentro desta política, a equipe do HC de Ribeirão ocupa lugar de destaque. Paulo Henrique Manso, cardiologista pediátrico da equipe, explica que em nenhuma cidade do interior se opera tanto e com tal complexidade como no HC de Ribeirão. ‘Recebemos até crianças de São Paulo aqui’, diz.

O grande gargalo do Serviço, no entanto, continua sendo a falta de leitos em UTI. Manso destaca que, dependendo da complexidade, as cirurgias em crianças cardiopatas podem ser a diferença entre a vida e a morte, dentro do primeiro ano de vida. ‘Um bebê operado deve ficar em média de cinco a seis dias em UTI. No caso dos recém-nascidos que operamos, este tempo pode chegar a duas semanas de recuperação em UTI, imprescindíveis’, diz o cardiologista. Por esta razão, os leitos hoje não são suficientes para o potencial de atendimento da equipe. ‘Hoje esta é nossa maior preocupação’, diz o professor Walter.

Com pouco menos de cinco anos de atividades, a equipe já operou cerca de 700 crianças. Hoje, o movimento da Cirurgia Cardíaca do HC de Ribeirão é responsável por quatro de cada dez cirurgias deste tipo realizadas na cidade. ‘São aproximadamente 400 cirurgias anuais, descontadas as operações de colocação de marcapassos e cardiodesfibriladores, e as de cirurgia torácica. E vamos nos empenhar em fazer muito mais’, promete o professor Walter Villela.

Da Redação – Agência USP