USP: Historiador defende dissertação inédita sobre a vida de Luís Carlos Prestes

Mudanças de Prestes foram coerentes com cada momento histórico, segundo estudo

qui, 12/02/2004 - 14h43 | Do Portal do Governo

As idéias do militar e político Luís Carlos Prestes (1898-1990) passaram por algumas mudanças ao longo de sua vida, cada uma delas bem fundamentada e de acordo com o contexto político do momento, seguindo uma lógica própria e independente.

A conclusão é do historiador Glauber Cícero Ferreira Biazo, que defendeu uma dissertação sobre o tema na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Segundo ele, foi a primeira vez que se fez um levantamento da vida de Prestes.

Segundo Biazo, a primeira virada aconteceu em 1930, quando o militar abandonou os tenentistas, grupo que ele mesmo liderava, e volta-se ao comunismo, doutrina que começa a estudar. O tenentismo se caracterizava por atacar as oligarquias, proclamar o movimento armado e reivindicar eleições livres.

‘Prestes previu que o apoio dado pelo Movimento Tenentista ao candidato à presidência na época, Getúlio Vargas, não seria uma boa estratégia’, explica o historiador. ‘Para ele, isso seria uma submissão dos tenentes às oligarquias que apoiavam Vargas. O argumento era de que elas se beneficiariam do prestígio do movimento revolucionário e este perderia sua liberdade.’

Mas a idéia tenentista não foi completamente abandonada por Prestes. ‘As bases de suas concepções políticas posteriores surgem dessa fusão entre o tenentismo e o comunismo’, diz o pesquisador. ‘Aliás, o seu Manifesto de 30 apresentou uma concepção original, que antecipou as revoltas de 1935, conhecidas como Intentona Comunista. Nessa época, tivemos Prestes tentando unir militares de esquerda e comunistas. Desde antes, ele via como necessária uma união mais ampla naquele momento histórico.’

Depois de amadurecer sua posição comunista stalinista na União Soviética (URSS), de 1931 a 1935, Prestes é preso como um dos líderes das revoltas de 35 no Brasil. ‘Da prisão, acompanha o desenrolar da Segunda Guerra Mundial, com a união entre os Estados Unidos e a União Soviética, e então transmite pela primeira vez orientações para os comunistas brasileiros’, conta Biazo. ‘Publica, em 1944, o artigo União Nacional contra o Fascismo, defendendo que, no contexto da época, essa deveria ser a prioridade, com uma aliança ampla entre as forças anti-fascistas.’

Estratégia paciente

Segundo o historiador, Prestes considerou que mais importante que derrubar Vargas naquele momento era aguardar por uma transição para uma democracia constitucional, exatamente pelo perigo do fascismo.

‘A partir daí, num plano democrático e nacional, desenvolve uma concepção desenvolvimentista: o Brasil, para ele, possuía características ‘semi-feudais’, como o latifúndio e a predominância do mundo rural, e precisava de um forte crescimento autônomo de sua economia.’ Isso não conflita com a posição comunista de Prestes, de acordo com Biazo. ‘Para ele, esses objetivos eram estágios intermediários para que se chegasse à revolução.’

Essas posições mudam novamente durante o exílio, de 1971 a 1979. Quando retorna ao Brasil, Prestes entende que a questão de uma etapa nacional e democrática não é mais tão importante para uma revolução comunista brasileira. ‘Seria necessário então se preocupar com o problema da hegemonia burguesa sobre os trabalhadores’, conclui Biazo.

Desse modo, Prestes acaba rompendo, em 1980, com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), isolado dos dirigentes comunistas e de suas grandes alianças.

Biazo começou seus estudos com a vasta produção intelectual de Prestes, como artigos e manifestos, além de uma entrevista dada pelo militar em 1984, na região de Santo Ângelo, em Foz do Iguaçu. Era uma comemoração aos ’60 anos da Coluna Prestes’. O mestrado teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Mais informações: e-mail gcfbiazo@yahoo.com.br, com o pesquisador

Da Agência USP de Notícias

Maurício Kano

L.S.