USP: Genes podem definir progressão tumoral de melanoma

Estudo identificou 80 genes humanos que podem ter relação direta com a evolução deste tipo de câncer de pele

sex, 13/05/2005 - 17h03 | Do Portal do Governo

Genes que nunca antes haviam sido relacionados com o câncer de pele do tipo melanoma foram identificados em um estudo realizado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. A pesquisadora Kamila Chagas Peronni, do Laboratório de Biologia Celular e Molecular, conseguiu selecionar 80 genes humanos que podem ter relação direta na evolução tumoral da doença.

Neste caso, a idéia é que a presença (ou a ausência) do produto gênico pode determinar o tipo de evolução que o tumor terá. ‘Nós encontramos genes que têm um baixo nível de expressão na metástase. Se eles tiverem sua expressão aumentada, a doença deixaria de progredir para uma metástase?’, exemplifica.

O estudo baseou-se na comparação da expressão gênica entre duas linhagens celulares provenientes do mesmo paciente, sendo uma derivada do tumor primário (fase vertical da progressão tumoral) e a outra da metástase deste tumor em linfonodo.

Estes dois tipos de progressão tumoral são considerados os mais graves. ‘A progressão vertical é o último estágio do foco primário do melanoma.’ Já a metástase acontece quando uma ou mais células do tumor adquirem a capacidade de se instalar em outros órgãos, causando uma nova neoplasia.

Outra possível aplicação das informações obtidas seria a identificação de marcadores para o diagnóstico e prognóstico do câncer. ‘Se o melanoma de um paciente apresentar expressão (ou perda) de determinados genes, talvez a lesão evolua para a metástase’, explica Kamila.

Apesar dos resultados promissores, Kamila faz questão de ressaltar que a pesquisa está em seus primeiros passos. ‘Precisamos realizar a caracterização funcional destes trechos gênicos. Uma das próximas etapas será expressar ou subexpressar estes genes e analisar o que isso causa’. Ela acrescenta ainda que serão feitos outros estudos para determinar se estes genes poderiam representar potenciais alvos terapêuticos no tratamento da doença.

Além disso, para comprovar a relevância deles, será necessário confirmar os resultados em outras linhagens celulares ou tumores de pacientes com características clínicas variadas. ‘A progressão tumoral envolve uma série de alterações genéticas e epigenéticas, dentre as quais algumas devem ser críticas para levar o tumor a evoluir para uma metastáse. São estas que nós estamos procurando identificar.’

ORESTES

Os trechos gênicos utilizados no estudo foram obtidos pela técnica denominada ORESTES (Open Reading Frame Expressed Sequence Tags), que permite a clonagem de regiões centrais do transcrito (ou seja, do RNA mensageiro). Alguns deles nunca tiveram a existência comprovada cientificamente, apenas haviam sido previstos em simulações de computador. ‘As sequências escolhidas correspondem a genes pouco caracterizados ou sem nenhuma caracterização funcional’, diz Kamila. Esse é justamente um dos motivos da identificação pioneira de genes que possam estar ligados à evolução tumoral do melanoma.

O estudo foi orientado pela professora Enilza Maria Espreafico e teve financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FAEPA) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

André Benevides – Agência USP