USP: Genes ajudam a identificar e combater a leucemia do vírus HTLV-I

A leucemia de células T humanas, causada pelo HTLV-I, requer atenção no Brasil

sex, 19/09/2003 - 19h59 | Do Portal do Governo

Para entender os mecanismos de desenvolvimento da leucemia induzida pelo Vírus Linfotrófico Humano (HTLV-I) e, conseqüentemente, buscar melhores métodos de tratamento e diagnóstico deste tipo de leucemia de células T humanas, um estudo apresentado ao Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP procurou identificar os genes envolvidos no processo de malignização e selecionou alguns que parecem ter grande importância para a ocorrência da doença. A leucemia de células T humanas, causada pelo HTLV-I, requer atenção no Brasil, visto que a infecção por este vírus apresenta grande incidência em algumas regiões do país.

O estudo contou com o apoio da Fapesp e fez parte do doutorado defendido pela pesquisadora Yumi Hiraki, que comparou a expressão gênica de um grupo de pacientes com leucemia/linfoma de células T do adulto (ATLL) – uma forma de leucemia aguda causada pelo vírus -, com outro de indivíduos portadores de HTLV-I, sem qualquer forma manifesta da doença.

Em pacientes nos quais a doença se manifesta, Yumi identificou menor quantidade de um inibidor do fator NF-kB quando comparado com a quantidade de inibidor em portadores. O NF-kB é importante por ser parte de uma das vias responsáveis pela proliferação de linfócitos. Em pacientes sem o vírus, tanto o fator quanto seu inibidor são encontrados em pequena quantidade.

O vírus da leucemia de células T infecta a mesma célula que o vírus da Aids (HIV) e seu desenvolvimento é gradual, o que faz com que a doença só se manifeste após vários anos. Por isso os pacientes infectados enquanto são jovens, têm maior probabilidade de desenvolver a doença no futuro. Dos infectados na infância, 4 a 6% desenvolvem a doença na fase adulta, enquanto somente 0,5 a 2% dos infectados já quando adultos apresentam sintomas. A infecção crônica pelo vírus pode resultar no aparecimento de ATLL, um tipo de câncer. Quando a doença se desenvolve na forma aguda, a sobrevida é pequena, de cerca de 13 meses.

A transmissão do vírus ocorre em transfusões, durante a amamentação, pelo contato sexual e também pelo uso de seringas contaminadas. A professora Nancy Amaral Rebouças, professora associada do Departamento de Fisiologia e Biofísica, orientadora de Yumi, ressalta a importância da pesquisa lembrando que a incidência em algumas áreas é bastante crítica: ‘No nordeste, cerca de 1% dos doadores de sangue apresentam o vírus, enquanto em São Paulo os números chegam a 0,4%. Nos EUA, por exemplo, os valores são muito menores, algo em torno de 0,0025%’.

Pedro Biava – Agência USP